
Causou barulhinho a afirmação que fiz na coluna passada de que sintaxe é uma questão de uso e não de princípios ("O uso social e culinário da mussarela"). Trata-se de uma citação de uma das muitas passagens hilárias da crônica "O gigolô das palavras", de Luis Fernando Verissimo. Eis a fonte para ser consultada e sobretudo apreciada.
Dizer que sintaxe é uma questão de uso e não de princípios não significa dizer que tudo pode, tudo é permitido. Mas ninguém precisa ir à escola para aprender essa verdade absoluta sobre língua. Qualquer falante da nossa língua, independentemente da classe social, da cor da pele, do time do coração e do número de dentes, sabe disso. Intuitivamente. Por isso nenhum brasileiro fala coisas como "Mim fazer a tarefa de matemática pra ele", mas diz "Ele pediu pra mim fazer a tarefa de matemática pra ele". Esse último enunciado é extremamente estigmatizado, pois faz um arranjo condenado pela maioria das gramáticas normativas.
Mas é língua portuguesa, ou melhor, uma variedade da nossa língua falada por milhões de brasileiros. É comum na fala e mais rara na escrita, uma vez que os registros escritos são mais vigiados e passíveis de serem escolarizados. Como disse mais de uma vez, cabe à escola criar condições para que os estudantes dominem os registros cultos, tanto os escritos quanto os orais. Ao mesmo tempo é importante que não perca de vista que deve sempre se pautar pelo conhecimento científico de língua e não pelo senso comum, mesmo que venha de um graúdo da Globo, de um ministro do Supremo ou de um imortal da ABL.
Senso comum é senso comum. Seres humanos merecem respeito; ideias estúpidas, não.



