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Acode-me com frequência uma lembrança de quando eu cursava a 5ª série, nos tempos do ginásio. Um colega solicitou à professora de geografia uma saída emergencial nos seguintes termos: "Professora, dá pra mim ir no banheiro?" A professora, muito calma (afinal, pimenta nos olhos do outro é refresco), achou disposição em fazer troça: "Desculpe-me, mas não entendi". E meu colega: "Dá pra mim ir no banheiro?" Ela reafirmou sua "ignorância" umas três vezes, mas no fim ele foi, voltou, e nenhuma tragédia se consumou. Uma dúvida, entretanto, pairou sobre nossas cabeças: por que a professora demorou a entender um pedido tão cristalino?

Na hora do intervalo (antigo recreio), Rodinílson – o mais inteligente da sala –, teorizou sobre o assunto: o problema era o uso do "pra" e do "no". O correto seria: "Professora, dá PARA mim ir AO banheiro?: Espanto geral. Como um garoto de 5ª série sabia tanto sobre esses mistérios da língua? Rodinílson era um zero à esquerda no futebol. Mas, quando o assunto era gramática, matemática e ciências, o jeito era encolher as orelhas e aceitar.

Depois do intervalo, Rosa testou a hipótese de Rodinílson, agora com nossa professora de educação artística. E não é que deu certo já na primeira tentativa? O esnobe estava certo. O problema era o "pra" e o "no". Pelo jeito teríamos um longo reinado rodinilsoniano pela frente.

Mas o despotismo do nosso gênio foi relativizado na aula de português. Nelson, um craque na zaga e um grosso em assuntos menores, relatou o fato ao nosso professor, que nos explicou que o correto era "para EU ir ao banheiro". E melhor seria: "A senhora me dá licença para EU ir ao banheiro"? A coisa ficou complicada: "para eu ir"? Que diabo de língua é essa? Aceitamos só por causa da empáfia de Rodinílson, mesmo convictos de que o professor errara feio.

afernandes39@gmail.com

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