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Na coluna anterior (Você viu ele?), afirmei que o pronome "ele", não obstante as lições da maioria dos instrumentos normativos da nossa língua, aparece constantemente na função de objeto direto. O título serviu-me de exemplificação e deixei claro que esse tipo de ocorrência é comum na fala dos brasileiros e mais restrita nos textos escritos.

Hoje dispenso mais algumas linhas ao assunto, em consideração ao e-mail de um leitor que gostaria que eu explicasse melhor por que a escrita é mais conservadora que a fala e se mostra refratária a construções tão comuns no nosso dia a dia.

Uma resposta satisfatória seguramente passa pela constatação da existência de um aparato que vigia constantemente a escrita. Nosso sistema ortográfico, por exemplo, é definido por lei. É o Estado, portanto, que legisla sobre essa parte da língua. Sim: sempre sobram espaços para pequenos desentimentos. Em todo caso, apesar de desencontros pontuais, importantes dicionários, como o Houaiss, o Caldas Aulete e o Aurélio, são instrumentos poderosíssimos na validação da nossa ortografia e os principais sentidos das palavras. As inúmeras publicações escritas (livros, revistas, jornais) seguem à risca o que está consignado nesses materiais.

Pensemos, ainda, que a escola é principal guardiã da escrita. É o ensino formal o principal responsável por fazer com que pessoas de todos os lugares do Brasil escrevam de forma bastante uniforme, embora seja inquestionável a riquíssima diversidade linguística que caracteriza a fala dos brasileiros.

Por fim, não custa lembrar que o termo "conservadora", como empregado, não expõe sentido pejorativo, mas técnico. Significa que a escrita se inova bem menos que a fala. Isso nos permite ler textos de épocas e de lugares diferentes do Brasil com relativa facilidade.

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