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Na coluna passada afirmei, com palavras parecidas, que muitas concordâncias consideradas erradas devem ser vistas como possibilidades oferecidas pela nossa língua. Dois leitores pediram que eu explicasse melhor o que eu quis dizer. Ago­ra procuro fechar essa lacuna.

No dia a dia ouvimos (e muitos de nós falamos) construções do tipo "os TIME fizeram um baita duelo", "os PIÁ não tão a fim de sair", "as CASA PEGOU fogo por causa de uma faísca". Todas essas construções apresentam falhas de concordância conforme nos ensinam as gramáticas normativas, os manuais de redação, enfim, todo tipo de material que enuncia pontos de vista em termos de certo e errado, sim ou não. Muitos de nós, evidentemente, nos orientamos por esse tipo de material. Dependendo da função que exercemos na sociedade, dependendo do contexto em que nos encontramos, somos obrigados a usar um registro de língua condizente com a imagem que desfrutamos. Imagine­­mos um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) falando algo do tipo: "Esses processo está cheio de vício". Pega muito mal, com certeza.

Por outro lado (e eis aqui o ponto que não ficou claro), todos os exemplos dados são registros possíveis da nossa língua. Gostemos ou não. Escandalize­mo-nos ou não. Trata-se de uma variedade do português caracterizada por um princípio de economia em construções que envolvem o plural. Vejam que todos os registros citados apresentam apenas o artigo no plural (OS piá, AS casa, OS time). Os demais termos continuam no singular sem que se altere o sentido pretendido. Os falantes têm uma gramática internalizada que possibilita esse tipo de construção.

Desnecessário dizer que são formas muito estigmatizadas, inadequadas a muitos contextos, mas fazem parte do enorme conjunto de variedades da nossa língua portuguesa.

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