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O presidente da CBF, José Maria Marin, teve merecido destaque da mídia nos últimos dias, menos pelo estilo de comandar, que é antigo e cultuado por mandatários e mandatárias, e mais pela gafe que envolveu a presidente (ou presidenta) do Flamengo, Patrícia Amorim. Vejamos a pérola: "Conversando com nosso representante lá fora [em Londres], ele disse que tínhamos de nos preocupar com a cozinha, porque a comida lá é ruim. Vamos ter cozinheiro, para garantir. Você [Patrícia] não vai cozinhar lá não, tá?".

O lapso de linguagem cometido por Marin fez emergir um discurso sobre o papel das mulheres em nossa sociedade: lugar de mulher é na cozinha. Ou nesta versão de naturalismo cru: minha mulher esquenta a barriga no fogão e esfria no tanque.

José Maria Marin é machista?

Pergunta complicada de responder. Talvez sim, talvez não. Um lapso de linguagem (ou ato falho) releva conteúdos que estão recalcados, escondidos. Às vezes pertencem aos nossos pecados individuais, quando trocamos o nome da nossa companheira ou do nosso companheiro; às vezes traz à tona conceitos que fazem parte de uma história mais longa, que pertencem a uma cultura. É o caso de muitos discursos sobre as mulheres, difíceis de serem datados.

Mas vamos sair da cozinha.

No ano passado, o ator Rodrigo Lombardi, durante o quadro Dança dos Famosos, do Faustão, disparou esta ametista sobre o genial cantor norte-americano Sammy Davis, Jr.: "Um artista me influenciou. Era baixinho, preto, feio, caolho e magro. Mas, no palco, virava o um homem de 1,90 m, louro de olhos azuis".

Embora talvez esteja longe de ser uma pessoa preconceituosa, de fato, Lombardi fez dançar no palco um discurso sobre os predicados do artista talentoso. Ironicamente, esqueceu que o mundo dos artistas realmente grandiosos é bem maior do que ser galã da Globo.

E essa verdade é extremamente consoladora.

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