• Carregando...
 |
| Foto:

Nesta coluna, aproveito o comentário, bem-vindo, de um professor de português que trabalha na rede pública do Paraná. Ocorre o seguinte: lá pelas tantas, afirmei na coluna anterior (O importante exercício da revisão) que raramente os estudantes têm oportunidade de voltar ao próprio texto para revisá-lo – exercício necessário a todos nós que escrevemos. O professor leu nisso "um certo romantismo" e mencionou as salas lotadas, a necessidade de entregar livros de chamada com as devidas notas, o baixo salário; em síntese, ele fez um retrato "da vida como ela é". As aspas marcam suas palavras.

Já trabalhei na rede pública e, portanto, conheci "a vida como ela é". Mesmo do lado de fora, não ignoro que ela continua sendo. Mas a questão de dar mais qualidade às aulas de língua portuguesa – e de todas as disciplinas, obviamente – é consenso entre os educadores. Um problema não elide o outro.

Volto ao ponto que levantei, qual seja, a de que os estudantes precisam revisar o próprio texto, retornar a ele para ver se responde adequadamente à situação. Ora, trata-se de ação muito natural quando escrevemos. Aqui, não precisamos lembrar da obsessão de Graciliano Ramos em revisar seus escritos, do conselho de Drummond para os poetas não terem dó de encher os cestos de lixo com poemas ruins.

Mas desçamos ao pó e olhemos nossa realidade com a escrita.

A experiência nos mostra que, quando nos afastamos durante algum tempo do nosso texto (algumas vezes, dez anos; outras, meia hora), já criamos uma boa distância em relação a ele, o que nos possibilita alguns ajustes: na pontuação, no vocabulário, na ordem das informações etc. Não raro, todo ele vai para a cesta – ou, mais comum nos nossos dias, simplesmente é deletado.

Não é bom nos contentarmos com nosso texto "como ele é" na primeira versão. Porque ele pode ser bem mais.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]