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Uma das características do processo de leitura é que existe um mundo de experiências do qual jamais conseguimos nos libertar quando lemos. Estamos, assim, permeados por uma visão de mundo que, de alguma forma, seleciona e edita sentidos do material lido.

Claro: há informações que são comuns a todos nós, que tendem a ser bem literais mesmo. Somente um leitor obsessivo, por exemplo, interpretaria a informação de que houve uma missa no Centro Cívico como uma convenção de extraterrestres dispostos a explodir nossa cidade na calada da noite. Um bom texto cria barreiras contra leituras paranoicas.

Mas há leituras que, sem ser obsessivas, acionam uma visão de mundo que, em certa medida, "encharca" o material lido. Dou um exemplo, tendo como base mais de trinta cartas de leitores de revistas e de jornais, incluindo a Gazeta do Povo. O assunto é a reforma ortográfica.

A maioria dos leitores é completamente contrária à reforma. Até aí tudo bem. O problema é que vários desses leitores afirmam que agora terão de começar a aprender o português, que já não sabem mais escrever, que anos de estudos foram para o ralo. Invariavelmente, porém, se expressam por meio de textos bem escritos, com clareza e objetividade espantosas.

Tudo indica, portanto, que muitas pessoas, quando leem sobre as mudanças ortográficas, acionam um discurso de que texto bem escrito é sinônimo "apenas" de ausência de erros de ortografia. Daí o exagero. Felizmente não é bem assim. Tanto que um bom corretor ortográfico pode nos mostrar os principais lapsos de escrita. Por outro lado, ele não consegue nos ditar uma carta com sentido, marcada pela nossa intencionalidade, inclusive com subentendidos que, conscientemente, desejamos inscrever no texto.

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