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Mais de uma vez falei neste espaço que a língua não é uniforme em seu uso. Na verdade, trata-se de lição antiga e correta. Ninguém duvida disso, assim como ninguém mais tem dúvidas de que é a Terra que gira em torno do Sol e não o contrário. O que me chama a atenção é o fato de algumas pessoas imaginarem que passam distantes dessas variações, desses "infortúnios" que toda língua nos reserva. Recen­temente fui acusado de defender que devemos ensinar que o correto é "Nós pega o peixe" – uma referência a um trecho do livro de língua portuguesa Por um mundo melhor. O ônus da prova é de quem acusa. E tenho certeza de que o conjunto das minhas colunas não dará subsídios ao meu acusador.

Portanto, é com a consciência tranquila que avanço no assunto e afirmo: a escola (e por extensão materiais didáticos) é o espaço legítimo para os professores de português oferecerem aos alunos momentos de reflexão sobre a língua. Uma pessoa formada em Letras não precisa tremer diante da opinião de um eminente cardiologista ou de um influente apresentador de TV se estiverem equivocados em seus juízos. Um geógrafo também não precisa ficar com medo de falar que a Terra tem bilhões de anos e não algo em torno de 7 mil anos. E historiadores precisam falar a seus alunos que houve escravidão no Paraná. Nesses dois últimos casos, não está dito que se deva negar a fé dos alunos em um ser superior e a importante contribuição dos imigrantes e de brasileiros não escravos para a constituição do nosso estado.

O percurso escolar que o aluno trilha para ter acesso aos registros cultos da nossa língua não pode prescindir da reflexão sobre como ela funciona. É isso que fará com que um menino pobre, da periferia ou do sertão, compreenda e aceite a fala de seus pais e das de­­mais pessoas de seu convívio como um registro legítimo e não como um atestado de animalidade.

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