• Carregando...

Na minha graduação em Letras, eu e minha turma lemos um artigo, na disciplina de Didática, que fazia uma defesa apaixonada do analfabetismo. Escapam-me neste momento as referências exatas desse texto. Lembro-me, porém, do impacto provocado na maioria de nós.

Creio nunca havíamos pensado sobre a afirmação do autor de que a história da humanidade foi feita por analfabetos. O acesso da "massa" aos bancos escolares e por consequência ao mundo da escrita é coisa de poucos séculos. Se somarmos todas as pessoas que nasceram e morreram nos últimos dez mil anos, vamos ver que mais de 90% eram analfabetas. Ora, se conseguimos até agora – ou até pouco tempo atrás – sobreviver sem a escrita, por que essa obsessão com o texto escrito? Não estaríamos sendo subjugados por uma ideologia "grafocêntrica" que mata culturas riquíssimas cujo "grande pecado" foi não desenvolver um sistema de escrita? Quando tiramos o analfabeto do seu mundo sem a escrita e lhe oferecemos um mundo com códigos diferentes não estamos provocando o desaparecimento de saberes só possíveis às culturas orais? Por trás de projetos de alfabetização em massa não se esconde uma intenção dos Estados Modernos de apenas capacitar trabalhadores para a produção e para o consumo? Todas essas perguntas e outras mais são feitas nesse artigo. Parece-me que não exagero ao afirmar que o texto terminava pregando um grande chute no balde: Esqueçam a escrita! Ela não serve para nada!

Apesar do choque inicial, aos poucos fomos elaborando uma resposta a tal provocação. Outros textos vieram, com outros pontos de vista. Justamente pelo fato de sabermos ler, foi possível buscarmos uma espécie de síntese entre o valor inestimável das culturas centradas na oralidade e as centradas em códigos escritos. Não é produtivo trabalharmos com a exclusão de uma das duas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]