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Virada de ano novo é época de ganhar agendas, esses livros-calendários projetados para organizar nossa vida, que existem de todo tipo e tamanho. Há os religiosos, com dia dos santos e trechos da Bíblia, os temáticos e profissionais, dirigidos a segmentos específicos, e os institucionais, fazendo do brinde uma lembrança diária de uma marca ou de uma empresa.

Gosto de agendas – o objeto é convidativo, com suas folhas numeradas em branco e seus introitos prático-culturais, fases da lua, lembretes, informações saborosamente inúteis, conversões curiosas. Quanto mede uma légua de sesmaria? Ora, 6.600 metros! E um watt? Fácil: 0,001341022 cv, enquanto um galão britânico equivale a 4,56091 litros. Descubro, por exemplo, que 3 de outubro será o dia do cirurgião dentista latino-americano (por que só do latino-americano?), enquanto 24 de junho, além de marcar a natividade de São João Batista, é o dia do migrante, do mel e da ufologia. É também de uma agenda – aliás, uma bela produção gráfica da Editora da UFPR – que tiro a informação de que em 1918 o antigo prédio da Univer­­si­­dade do Paraná, na Santos Andra­­de, era o mais alto de Curitiba.

A agenda é também um lembrete de que devemos nos organizar, planejar, pôr o tempo sob controle, e aqui percebo minha fraqueza. Quando professor, passei anos começando agendas, otimista, para em dois ou três meses largá-las esquecidas, cheias de vazios; em seu lugar, anotava em papéis avulsos, guardava de cabeça ou escolhia um caderninho que coubesse no bolso, que também restaria incompleto até que eu abandonasse tudo e deixasse o ano avançar ao acaso de trancos e barrancos. Ao mais importante, os horários de aula, reservava uma única folha junto às listas de chamada (mais a memória, que funcionava!), o que resolvia.

Agendas vencidas acabam sendo úteis por outras razões, recicladas para fazer contas ou projetos de textos; já fiz literatura nelas, no tempo em que escrevia à mão, e pelo menos uma vez arrisquei um diário, que durou quatro dias. Algumas são ótimas para desenhar.

Parece que as agendas foram vítimas do próprio tempo que marcavam, quando o computador começou a devorar a vida das pessoas; já há alguns anos anoto os compromissos no monitor. O fato é que o tempo digitalizou-se em definitivo, desde que os velhos relógios mecânicos passaram a ser regidos por bits, na sua exatidão irreal, e todas as traquitanas do mundo parecem convergir para o celular. Além de marcar compromissos, receber e-mails, funcionar como GPS e parque de jogos, fazer cálculos e conversões instantâneas e sem charme, os celulares chegam até a ser telefones – e mais, no lugar dos velhos despertadores tiquetaqueando no criado-mudo, fazem também o trabalho sujo de nos despertar nas frias manhãs curitibanas.

Mas chega de passadismo, que o mundo anda para a frente. Um ótimo 2012 a todos.

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