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De volta à vida real depois das mais longas férias que tive desde criança – 50 dias de dolce far niente –, começo a exercitar meus dons secretos de futurólogo, só para recomeçar de algum lugar. Sobre o papa, tudo que sei que é vão eleger outro, e a vida continua. No Brasil, andei matutando que a era do Partido dos Trabalhadores está chegando ao fim, sem que se saiba ainda o que virá depois. A ascensão de Lula foi o último movimento utópico-messiânico brasileiro, herdeiro do espírito dos movimentos comunistas do século 20, adaptado aos novos tempos e à nossa realidade, encontrando na figura providencial de Lula um símbolo perfeito: o torneiro mecânico que, oportunamente, também seria um estadista.

Como sabemos, e isso é particularmente real no Brasil, a oportunidade faz a presidência, e tudo foi se esboroando pelo caminho, numa queda que a presidente Dilma, que completa o ciclo, parece incapaz de conter. Passou o primeiro ano livrando-se da herança corrupta que recebeu e, sem ser exatamente uma figura carismática, não consegue encontrar um ideário que dê sentido ao governo, enquanto em seu torno nada se move.

Começa a se espraiar a percepção de que o país não precisa de um gerente, mas de um presidente – pedir um(a) estadista já é querer demais no chão em que o Brasil se arrasta. A inflação ascendente não corrói apenas o poder de compra – sempre leva o governo junto com o desastre, um princípio básico que não se aprende facilmente.

Alguma sombra de utopia – com o necessário fervor religioso que lhe dá tempero – se desloca lentamente para a figura de Marina Silva, que poderá atrair os sinceros sonhadores quiliastas, os mais jovens surgindo agora, o mais velhos perdidos nos escombros do PT. Já a agora velhíssima oposição, depois de seu momento de governo e de glória no período FHC – que promoveu de fato a única mudança estrutural no país desde o projeto estatizante da ditadura militar –, não conseguiu mais reencontrar direção alguma. O frágil Aécio Neves não consegue sair dos limites das Minas Gerais, onde é o rei da cocada preta, e José Serra talvez se desmembre do encarquilhado PSDB em busca de uma última sobrevida, num tiro avulso, depois de cometer todos os erros políticos a que teve direito e queimar seu respeitável patrimônio eleitoral. Nessa neblina geral, velhos mitos da política publicitária se assanham: é preciso o "novo", a "renovação" – e a recente eleição das presidências do Congresso e do Senado, transformando-as num ramo sem humor da Família Addams, parece de propósito para estimular o desejo de uma grande pá de cal "no que está aí".

Enquanto isso, a figura de Eduardo Campos – que só uma calculada ingenuidade poderia imaginar como vice de alguém – vem assomando no horizonte para ocupar o papel que, em diferentes situações eleitorais e momentos históricos distintos, já foi de Collor e de Lula: o "novo".

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