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Não há um só jogo de futebol que não conte com muitos erros de arbitragem. Dos mais simples, laterais de um time que o outro leva, até os mais cabeludos, impedimentos mal marcados ou não marcados, escanteios que viram tiro-de-meta e vice-versa, e, o pior de tudo, pênaltis que não eram pênaltis e o juiz apita, ou os que eram e ele não apita. Na esmagadora maioria, são involuntários, é claro – mas, se o árbitro é inocente, o erro não o é, e em cada falta trocada muda-se o destino e a geometria da partida. E não apenas nas situações gritantes – a mais discreta infração mal apitada já cria um jogo fantasma, aquele que poderia ter sido e nunca será. Na consciência coletiva, o "Se" é um jogador poderoso, escalado em todos os momentos, por todos os times, comentado por todos os jogadores, autor dos mais espetaculares lances e das reviravoltas mais inverossímeis.

Os especialistas que me corrijam, mas em nenhum outro esporte o erro de arbitragem está tão completamente integrado à alma do jogo como no futebol. Um jogo de qualquer outro esporte com as falhas de arbitragem que acontecem no futebol acabaria em pancadaria, processos, anulação. No futebol, não. Anos atrás, o mundo inteiro viu Maradona fazer um gol de mão e ficou por isso mesmo. O erro é o tempero do futebol, a sua metafísica, o seu fatalismo, pano pra manga de mesas-redondas intermináveis e apoio moral do torcedor entristecido: ah, se o juiz apitasse aquele pênalti! Sem falar nos teólogos da bola, os juízes escalados pela TV para comentar a arbitragem, como quem exorciza demônios. Sérios, às vezes indignados, sempre definitivos, interpretam a Tábua das 12 Leis com a severidade de quem decreta um fatwa irrecorrível. A severidade irritada com que definem cada lance duvidoso parece uma compensação psicológica – afinal, foram juízes e passaram a vida errando pelos campos.

Talvez um dos charmes do futebol seja mesmo o fato de que nele, como na vida real, a injustiça é um ator de peso. O futebol é realista. O escandaloso pênalti da Itália contra Gana e a mão na bola no chute francês contra a Suíça, se apitados, mudariam radicalmente o rumo dos jogos, é óbvio. Numa medida não desprezível, o futebol é tecnicamente um jogo de azar. E a roleta é o apito.

Confirmando a tese, os comentaristas têm frisado que a arbitragem da Copa está boa – parece que nesses primeiros dias "apenas" três jogos tiveram seus resultados afetados pelos erros. (Para desmentir o cronista, o jogo do Brasil, exceção rara, não teve nenhum erro visível de arbitragem. Desta vez sofremos por conta própria.)

Chavões da semana: O jogo só termina quando acaba! Que o digam nosso Zico e a seleção do Japão, que levou inacreditáveis três gols nos últimos minutos de jogo, saindo de uma vitória praticamente garantida para uma derrota humilhante. Como lamentou o próprio Zico na entrevista depois do jogo, quem não faz, leva. E a Austrália vem aí...

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