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No tempo do antes, quando Curitiba era uma cidade-dormitório que começava na Boca Maldita e terminava num conto de Dalton Trevisan – mais precisamente na Rua Ubaldino do Amaral –, as mocinhas da cidade tinham apenas duas opções imediatas: sair na coluna social de Dino Almeida com pose de candidata ao título de Glamour Girl ou ser citada na página de Aramis Millarch como uma das mais jovens promessas do mundo artístico da Cidade Sorriso.

Bia Wouk optou pelos dois. Filha dos linguistas Maria das Dores Figueiredo e Miguel Wouk – daí que com 3 aninhos já falava francês como gente grande –, tanto circulava no Clube Curitibano como também era assídua frequentadora da galeria de arte Acaiaca, do marchand Jorge Carlos Sade, onde conheceu o artista plástico Carlos Scliar – nos anos 1970 o guru das jovens promessas do mundo artístico da Cidade Sorriso.

Entrar para o guruato de Carlos Scliar não era para qualquer jovem promessa. Além de talento e disponibilidade para passar uma ensolarada temporada em Cabo Frio, era preciso ter muita coragem para abrir o coração, a mente, riscos e rabiscos a um dos maiores artistas que o Brasil já nos deu. Bia Wouk teve ousadia ao apresentar seus singelos desenhos a lápis de cor, na contramão das jovens promessas do óleo sobre tela.

Filhotinha – disse Scliar com aquele seu jeito peculiar –, se você pretende fazer isso que estou vendo, vá ao extremo, faça detalhe por detalhe. A perfeição dentro da perfeição!

A lição do mestre à filhotinha foi definitiva. Tão definitiva que se Carlos Scliar ainda estivesse no seu atelier em Cabo Frio, diria aos quatros ventos: "Disciplinada e persistente, essa filhotinha foi longe!".

E foi mesmo longe. Não só atravessou o Rio Belém, o Rio Ivo, o Rio Barigui e o Rio Atuba como também atravessou tantas vezes o Rio Sena que, numa dessas travessias a caminho da École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, atravessou-se pelo embaixador e escritor João Almino, como ele mesmo conta: "O melhor de Paris foi que conheci minha mulher, Bia Wouk, que ali vivia como artista plástica. Eu morava na Notre Dame des Champs e frequentava o café Le Select, onde algumas páginas de meu primeiro romance, Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo (Prêmio Casa de Las Américas – Cuba), foram escritas".

Com o giramundo nascido em Mossoró (RN), a filhotinha atravessou o Líbano no auge da guerra civil, passou pelo México, Washington, San Francisco, Miami, Chicago, Lisboa, Londres e agora é a senhora consulesa que guarda em seu amplo apartamento em Madri um tesouro em lápis de cor sobre papel para aquarela, obras prontas para mostrar em qualquer parte do mundo.

Depois de já ter feito uma exposição em Paris, por que não o Museu Oscar Niemeyer? Só falta Curitiba chamar a sua filhotinha.

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