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Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, teve de explicar aos vizinhos por que não passou as festas de fim de ano em São Luiz do Purunã: “Fui chamado pelo cerimonial da Presidência da República para os preparativos do velório do deputado Eduardo Cunha”, justificou-se.

Hospedado na Granja do Torto, o Jaguara ainda ajudou na animação da festa de Amigo Secreto no Palácio do Planalto, que só não contou com a presença do ex-presidente Lula. Com a sua conhecida franqueza, ele recusou o convite: “Não participo de festa de Amigos da Onça!”

Em torno de uma costela no fogo de chão, todos queriam saber dos bastidores da crise: “Coisa sucede com os home, compadre Jaguara?” O Animador de Velórios dos Campos Gerais se abancou na roda de chimarrão e fez um resumo de 2015 declamando o poeta Ascenso Ferreira:

“Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das coxilhas!
Saí de meus pagos em louca arrancada!
Pra quê?
Pra nada!”

“Como a estupidez não tem limites, o que mais ainda nos assusta é que são muitos os mentecaptos se levando a sério”

Os gaudérios do Purunã coçaram a barba: “A troco de nada, duvido-eu-dó!”. Jaguara empunhou a cuia do chimarrão e respondeu, num tom desacorçoado: “É o que está acontecendo com o povo brasileiro. Estamos aqui indignados a troco de nada. É sempre assim. Nessas horas os home não só perdem a língua como também se fazem de desentendidos. Ninguém sabe de nada. Enquanto isso, só nos resta baixar a cabeça e se fazer de tolo”.

O âncora de eventos fúnebres passou adiante a erva-mate e começou a explicar por que somos uns tolos: “Contam os russos brancos aqui dos Campos Gerais que yurodivy é uma forma peculiarmente russa de se referir a um tolo que faz questão de não se levar a sério. É um santo homem que não existe em nenhuma outra religião. São os tolos santos, no dizer do escritor Liev Tolstoi. No tempo dos czares, os tolos santos desafiavam as convenções sociais para zombar das falsidades mundanas, sem medo de dizer a verdade, principalmente aos governantes. Eles desprezavam todo tipo de conforto material, vestiam trapos e levavam vidas de pobres errantes, aceitando voluntariamente humilhações e insultos de forma a obter maior humildade e mansidão. Ao contrário dos ermitões que se recolhiam a monastérios, em meio às pessoas os tolos santos se esforçavam para que sua devoção não lhes granjeasse respeito. Bem ao contrário, recebiam de bom grado as críticas e reprovação geral. Para um tolo santo, mostrar-se uma pessoa pior do que realmente era não passava de um ato de coragem”.

“Compadre Jaguara, isso quer dizer que, a troco de nada, nós, brasileiros, precisamos assumir de uma vez por todas o papel de tolos?” “É o que nos cabe! Como a estupidez não tem limites, o que mais ainda nos assusta é que são muitos os mentecaptos se levando a sério. E no caso deles, não é a troco de nada! É a troco de muito!”

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