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 | Daniel Derevecki/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Derevecki/Arquivo Gazeta do Povo

Na mitologia grega, Ftono é o deus da inveja. Numa consulta ao Olimpo, a divindade do ciúme nos assegurou que só mesmo uma força suprema para conter os ânimos fratricidas que tomaram conta do Brasil.

“A inveja é uma M! – nos disse Ftono – Para amenizar essa praga, só mesmo o milagre do paladar pode unir os irmãos em torno da mesma mesa, principalmente aqui em Curitiba.” “Seria uma maldição dos deuses?”, perguntei. “É a maldição do caranguejo!”, respondeu Ftono: “Infelizmente vocês ainda não saíram do Ciclo do Caranguejo: quando um quer sair do balaio, os outros se unem para puxar o ousado pra baixo”.

“Se a inveja é invenção de Eris, deusa do caos e da discórdia – voltei a indagar –, de que forma os deuses do Olimpo poderiam iluminar os fratricidas?”. Ftono puxou de seu calendário ático (que vigorava em Atenas): “Dezembro é o mês da paz. Com 31 dias propícios para reconciliações, só numa generosa mesa podemos serenar os ânimos fratricidas causados pela maldição do caranguejo. Para tanto, é preciso reunir os amigos e inimigos em torno de uma caranguejada para aparar os ressentimentos”.

O caranguejo de Guaraqueçaba, um dos melhores do Brasil, vai muito bem com uma purinha de Morretes

Depois de muito ouvir (Ftono fala pelos cotovelos), perguntei qual a maneira mais prática de se levar o caranguejo à mesa: “A degustação não requer a habilidade de um relojoeiro – me explicou o Deus da Invidia –; requer, além de um martelinho, do mesmo instinto com que um caranguejo trata o outro”. “Seria este o instinto fratricida?”, perguntei. “Perfeitamente! – Ftono concordou – Imagine, por exemplo, os que alimentam uma aversão profunda por Sergio Moro. Como botar esse juiz na panela? Primeiro, jogando-o na água fervente por alguns minutos. Depois, começa o processo de limpeza com água corrente e escovinha para tirar a lama do mangue. A segunda limpeza inclui a raspagem dos pelos das patas do Moro com o auxílio de uma faca. Após uma segunda lavagem, Sergio Moro será cozido juntamente com tomate, cebola e pimentão picados. Pode ser adicionado o leite de coco natural, o que torna o magistrado ainda mais gostoso.”

Ao lembrar que o caranguejo de Guaraqueçaba, um dos melhores do Brasil, vai muito bem com uma purinha de Morretes, Ftono citou a Ópera do Bambu – cujo nome lembra uma sinfonia de martelinhos –, onde o maestro Otávio Tosin, descendente dos pioneiros italianos da Água Verde, conta que o ex-prefeito Maurício Fruet foi um mestre caranguejeiro cheio de graça que, diga-se, nunca sofreu do Mal da Inveja.

Certa feita, o então deputado estadual Maurício Fruet foi convidado para uma caranguejada em Paranaguá, atendendo os chamados de um feijão amigo de Antonina (feito por Guilhobel Camargo), a cachaça de Morretes e os caranguejos de Guaraqueçaba. Durante o bater dos martelinhos, Maurício lembrou do deputado Miguel Bufara e, para botar inveja nos seus colegas da Assembleia Legislativa do Paraná, correu para o telefone mais próximo: “Turquinho, ganhei dos meus amigos de Guaraqueçaba cinco balaios de caranguejos. Como já estou cansado de tanto bater nos bichinhos, pensei em levar esses patudos para você”. Do outro lado da linha, Bufara lambeu os beiços: “Você me entrega ainda hoje?” “Mando meu motorista entregar na tua casa!” “Ótimo, vou convidar os amigos da Assembleia pruma caranguejada hoje à noite. E manda junto umas garrafinhas de Morretes!”

Os convidados do Miguel Bufara ficaram esperando em torno da mesa até quase meia noite. Como o uísque havia chegado ao fim, as garrafinhas de Morretes não vieram e os cinco balaios de caranguejos não apareceram, foram todos jantar no Bar Palácio por conta da travessura de Maurício Fruet.

Por sua vez, não está nos planos do prefeito Gustavo Fruet convidar o eleito Rafael Greca para uma caranguejada de confraternização. Na política, assegura Ftono, desde os tempos da democracia ateniense é assim: quando um quer pular fora do balaio, os outros se unem para puxar o que está saindo pra baixo.

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