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 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Nas vésperas do aniversário de Curitiba, vamos sair chutando latas nas ruas e avenidas congestionadas com vivas e brindes ao João Burda, um dos maiores festeiros dessa cidade de pouco riso e muito siso.

Também conhecido como Capitão, por ter participado da Revolução Federalista, o lapiano João Burda comprou uma extensa área de terras no Bigorrilho, em 1890. Fabricava tijolos em seus domínios, que iam da Rua Euclides da Cunha até a Rua Jerônimo Durski, fazendo divisa com a Rua Padre Anchieta.

Não muito afeito a botar as mãos e os pés no barro, Burda mudou de ramo e abriu um armazém de secos e molhados, na Alameda Princesa Izabel, esquina com a Rua Bruno Filgueira. Morava não longe do negócio, ali na Júlia da Costa, perto da Rua Marechal José Bernardino Borman. Pelo que se deduz da memória oral do Bigorrilho, o negócio do Capitão folgazão não era ficar atrás do balcão. Tinha vocação para ficar na frente e, de preferência, sentado em cima de um engradado vazio de cerveja.

Na virada de um século para o outro esta cidade só conheceu festeiro maior na abundância de Rafael Greca

E assim foi: largou o seu próprio armazém para bater ponto no armazém do vizinho Gregório. Chegava de manhã, ajeitava o engradado vazio diante da porta e começava a tomar cerveja da marca Providência, escura. Voltava para casa lá pelas nove da noite, quando já tinha oferecido cerveja para todo mundo. Não satisfeito com a folia que patrocinava no armazém do seu Gregório, o Capitão construiu um barracão para fazer bailes nos fins de semana, só para os amigos e parentes se divertirem. Não cobrava ingresso e ainda pagava o gaiteiro.

Em 1908 o Bigorrilho era uma festa e João Burda, o festeiro que fazia a folia chegar, inclusive, até ao centro daquela então modorrenta Curitiba. Quando o capitão Burda ia à Praça Tiradentes de charrete, era um espanto. Chegava no armazém do Candinho e pedia um balde, que enchia de cerveja preta para matar a sede dos cavalos. Mais espantados ainda ficavam os almofadinhas da Matriz quando Burda enrolava uma nota de 500 mil réis e com ela acendia o charuto.

O carnaval fora de época ficava para o fim da excursão: o Capitão da festa costumava contratar uma bandinha de circo para animar o retorno ao Bigorrilho. A charrete na frente, a bandinha atrás e a piazada abrindo alas para a alegria subir as ladeiras do Bigorrilho.

Em outras ocasiões, contam os pesquisadores Maria Luiza Gonçalves Baracho e Marcelo Saldanha Sutil (Bigorrilho: a Construção de um Espaço Urbano), “montado num cavalo pampa bonito, que pulava obstáculo como no hipismo, ele ia à Praça Tiradentes e lá saltava sobre os bancos. O cavalo pampa, amarrado numa árvore enquanto o Capitão percorria o centro, era recolhido pela polícia. Já sabiam que era dele e o levavam embora. Ele ia lá, pagava e tirava o cavalo dele, pulava mais um pouquinho e ia a cavalo pra casa”. Bonachão e forte feito um touro, João Burda erguia uma cadeira até a altura do ombro, com dois dedos, e exclamava, bem feliz: “Eu sou o Joãozinho bonzinho da Lapa!”

Personagem dos mais exuberantes destes 324 outonos de Curitiba, na virada de um século para o outro esta cidade só conheceu festeiro maior na abundância de Rafael Valdomiro Greca de Macedo. Mais que exuberante e bonachão – ilustrado e fervoroso –, é de se lamentar que o atual capitão da festa tenha começado sua gestão montado num trôpego pangaré de barriga vazia, com calça de veludo e bunda de fora.

Fossem dias afortunados (quando os políticos acendiam charutos em notas de cem dólares), o nosso risonho e franco prefeito estaria festejando a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais com uma animada bandinha de circo, no alto de uma carruagem para se anunciar: “Eu sou o Rafael bonzinho da Curitiba dos bons tempos!”

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