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 | Antônio More / Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More / Gazeta do Povo

Na Grécia antiga, bem antes do euro, quando botavam a mão nos jarros de Zeus, proeminentes cidadãos eram mandados para o ostracismo. Traduzindo do grego, o camarada seguia para um exílio de dez anos, no mínimo. O patrimônio do indigitado era confiscado e a família ficava lambendo ostras durante todo esse tempo.

Há muitos anos venho reivindicando o cargo de Caseiro da Ilha das Cobras. Minha campanha neste sentido, como se sabe, tem encontrado notável e sincero apoio dos amigos. Dos desafetos, principalmente. A paradisíaca Ilha das Cobras tem página cativa na história e capítulo à parte nos anais do folclore. Cercada de água, óleo e contêineres por todos os lados, entrou para o patrimônio do estado após 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas anunciava o Estado Novo e impunha um período de ditadura na história do Brasil. Alegando a existência de um plano comunista para a tomada do poder, Getúlio fechou o Congresso Nacional e mandou construir na Ilha das Cobras um presídio para isolar a caterva comunista.

Para o ostracismo da Ilha das Cobras não seriam poucos os convocados de comprovado currículo

Contrariando os planos do caudilho, o interventor Manoel Ribas teve a estúpida ideia de transformar a pretensa hospedaria de comunistas num reformatório para menores. A ilha só deixou de ser o “jardim de infância do inferno” muitos anos depois, quando um casal de noruegueses partiu dos fiordes gelados em busca de uma ilha paradisíaca nos mares do sul e o navio que os levava com destino a Florianópolis, fugindo de uma borrasca, naufragou no Canal da Galheta. O casal viveu na ilha por muitos e muitos anos, bem feliz e contente, constituiu família, sendo que uma das filhas, a mais esbelta e formosa, veio a contrair bodas com o grande poeta, escritor e teatrólogo Wilson Galvão do Rio Apa, recentemente falecido. Aventureiro e admirador de Robinson Crusoé (primeiro e último guru de Cristóvão Tezza), Apa chegou a viver na ilha por um bom tempo, mas essa é uma história que só o escritor Jamil Snege saberia contar com a devida graça. Como nos contava nas noites brumosas da Boca Maldita.

Caso o governador Beto Richa me enviasse para a Baía de Paranaguá, meu primeiro ato como Caseiro seria transformar a Ilha das Cobras no Eremitério Nacional do Ostracismo. A ínsula dos exilados, retiro obrigatórios dos corruptos e indesejáveis da sociedade. Ilha do Desterro, como já foi um dia Florianópolis.

Para o ostracismo da Ilha das Cobras não seriam poucos os convocados de comprovado currículo. Primeiro da fila de check-in, o casal Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo iria ocupar acomodações especiais com panorâmica para as mutretas do Porto de Paranaguá, tendo como vizinhos os mais notáveis hóspedes da República de Curitiba: José Dirceu, João Vaccari e André Vargas.

Com um tapete vermelho na chegada, a suíte presidencial seria ocupada por Dilma Rousseff, com direito a vista panorâmica da Ilha do Mel e às mordomias que lhe foram conferidas por lei.

No cargo de Caseiro da Ilha do Mel, faria ainda convites especiais aos derrotados nas urnas, a quem reservaria uma bela varanda com a paisagem de Guaraqueçaba. Na janela que se abre para a Ilha das Peças, alojaria o senador Roberto Requião, o bedel da Ilha do Ostracismo.

Nestes termos, governador Beto Richa, peço deferimento ao cargo de Caseiro da Ilha das Cobras. E desde já me proponho a convidar o ex-presidente Lula para uma temporada de reeducação no ostracismo, se for o caso.

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