Os sinos de Nicolau

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Quando chove canivete em Curitiba e São Pedro esvazia seus cântaros sobre a nascente do Rio Iguaçu, se existe um curitibano a merecer uma estátua no Parque Barigui é o engenheiro Nicolau Kluppel, festejado como “Nicolago” por ser o criador dos parques para regulagem das cheias.

Em 1971, Jaime Lerner estava rabiscando seu caderninho de ideias quando começou a pensar em voz alta: “O que falta nessa cidade é água!” Ao lado, Nicolau retrucou: “Mas tem, de água a cidade é bem servida!” Jaime desenhou, então, um barquinho e dois patinhos: “Não. Água que eu digo é mar, lagoa, rio!” “Prefeito, então se é assim deixa comigo!”

Também chamado de “Nicolixo”, por ser o mentor do “Lixo que não é Lixo”, o engenheiro ambientalista estava numa reunião para lançar o programa quando começaram a pensar numa forma de chamar a atenção da vizinhança para a chegada do caminhão verde de coleta de recicláveis. Com a simplicidade dos gênios, Nicolau apresentou a ideia: “Vamos usar os sinos do Papai Noel. Não há quem não escute o bimbalhar dos sinos do trenó com suas renas”.

Se existe um curitibano a merecer uma estátua no Parque Barigui é o engenheiro Nicolau Kluppel

Tempos depois, em outra reunião, o então candidato a prefeito Rafael Greca reivindicou para si a ideia dos sinos de Papai Noel no caminhão do “Lixo que não é Lixo”. Ao seu lado, Nicolau não passou batido: “Rafael, os sinos são meus. Você só benzeu!”

De origem tedesca, Nicolau Kluppel é um dos grandes contadores de histórias da cidade. Principalmente causos de polacos, dos quais é especialista. Das tantas histórias em que imita como ninguém os falares eslavos, a mais clássica é a versão polaca para a Revolução de 64, segundo se conta em lá em “tomascovelho” (Tomás Coelho):

“Essa revolução de 1964 começou quando Jânio Covadros (Quadros) foi ver parada de soldado. Soldado ponhou facão no bariga dele e disse: ‘Melhor se arancar! Fala que tem força oculta!’ Aí foi quando Jânio Covadros pegou boné e se arancou! Agora, soldado que ponhou facão no bariga do Covadros não era um soldado qualquer. Porque soldado tem quatro tipos: tem aquele que não tem nada nas manga dos paletó e nas parada fica com o espingarda; e tem um outro que é mais importante, que é aquele que tem uns risquinho na manga do paletó que fica gritando com aquele que caréga o espingarda.

Agora, tem um outro mais importante ainda. É aquele que tem estrelinha no ombro. Esse vai de cavalo na parada e caréga espada. Agora, tem aquele que ponhou facão no bariga do Covadros. Esse é o mais importante de todos. Porque ele tem estrelinha no ombro, mas a estrelinha tem rodinha amarela em volta dela. Esse é muito importante, porque ele... ele não faz nada: só olha de cara feia pros outro!”

Já aposentado – mas volta e meia bimbalhando seus sinos no escritório de Jaime Lerner –, com seu indefectível sotaque que imita polaco, Nicolau conta como surgiu a Operação Lava Jato: “Toda essa patifaria deu início com um tal de Pedro Braz, home muito rico aqui da Araucária”.