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As principais universidades dos EUA – que também são as melhores do mundo – costumam selecionar seus calouros não apenas pelo desempenho escolar. Buscam alunos com perfis étnicos e sociais diferentes. A ideia é promover a diversidade, em que os estudantes tenham contato com pontos de vista e realidades aos quais não estão acostumados. O ambiente universitário brasileiro está muito distante disso. E talvez o curso de Medicina seja um dos menos heterogêneos em sua composição – algo que pode ser uma das causas (não a única) da má distribuição de médicos pelo país, problema que o governo federal tenta enfrentar agora.

Cursar Medicina é para poucos. Nas universidades públicas, a concorrência é das maiores. Só ingressam os mais qualificados – normalmente os que estudaram nos melhores colégios, rotineiramente os privados. Nas faculdades particulares, o custo da mensalidade é outro filtro que elimina grande parte dos postulantes a médico. Poucos pais ou alunos podem bancar pagamentos mensais que variam de R$ 2,7 mil a R$ 6,2 mil.

Embora o financiamento estudantil permita que jovens de famílias com menos rendimentos se mantenham no curso, existe uma tendência à elitização do corpo médico nacional a partir da lógica da seleção dos estudantes de Medicina. É natural, ainda, que grande parte desses universitários não queira ficar longe de suas raízes para trabalhar em outras cidades. Especialmente se esses municípios forem pequenos, pobres e distantes – nos quais o recém-formado não terá acesso a bens culturais e às comodidades urbanas a que se habituou em função do segmento social do qual faz parte.

É preciso deixar claro que não há nenhum mal nesse comportamento em si. Todos têm direito a buscar o que acham melhor para si. Deve-se, porém, considerar a possibilidade de que o sistema pouco afeito à diversidade social traga prejuízos à coletividade. É possível ainda supor que, de modo contrário, médicos vindos de estratos sociais menos favorecidos e de localidades distantes tenham uma inclinação maior a voltar a suas origens após a formatura.

Talvez uma das discussões em torno da melhor distribuição dos médicos pudesse centrar-se nesta questão: como promover o acesso mais democratizado aos cursos de Medicina. Até mesmo porque algumas das soluções propostas pelo governo para melhorar a distribuição dos médicos terão efeitos colaterais. A obrigatoriedade de estudantes atenderem no SUS levará a rede pública a concentrar profissionais inexperientes. Poderá ficar estigmatizada como serviço de segunda linha. E os médicos estrangeiros que serão importados poderão retornar a seus países a qualquer momento, deixando as comunidades que atendiam sem a prestação do serviço.

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