O mundo está conhecendo, como já é tradição no mês de outubro, os vencedores do Prêmio Nobel. Já foram divulgados os ganhadores das categorias Medicina e Física. Hoje, será conhecido quem levará a premiação de Química. Amanhã, vai ser a vez do anúncio do Nobel de Literatura. Na sexta, será a vez da Paz. E, na segunda, de Economia.

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Até agora, nenhum brasileiro apareceu na lista dos laureados. Nem neste ano, nem em nenhuma outra edição do Nobel, que existe desde 1901. Gostaria muito de queimar a língua. Mas, a julgar pela tradição, é improvável que venhamos a celebrar a conquista do primeiro Nobel do país em 2008. Mesmo se viesse, seria uma exceção à regra.

Aliás, quando os brasileiros são citados como candidatos com chances, costumam aparecer nas bolsas de apostas para os prêmios não-científicos: Paz e Literatura.

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Não que não haja cientistas no Brasil capacitados para receber a premiação. Alguns mereciam ter levado a honraria. É o caso do médico sanitarista Carlos Chagas, que concorreu ao Nobel de Medicina de 1921 por ter descoberto o parasita causador da doença de Chagas, o inseto transmissor e as condições de propagação da enfermidade. Ou seja, ele descobriu todo o ciclo de uma moléstia – um feito suficiente para garantir-lhe o Nobel. Mas, estranhamente, naquele ano o prêmio ficou vago. Especula-se que a comunidade científica brasileira, enciumada com o sucesso do sanitarista, atrapalhou.

Outro que merecia ter ganho foi o físico curitibano César Lattes, que foi fundamental na descoberta de uma partícula subatômica (o méson-Pi). A pesquisa valeu o Nobel de Física em 1950, mas apenas para o chefe da equipe da qual Lattes fazia parte – o britânico Cecil Frank Powel.

Na área de Medicina, Maurício Rocha e Silva foi indicado ao menos duas vezes nos anos 60 e 70, por ter descoberto a bradicinina, a partir do veneno da jararaca. A substância, que atua como vasodilatador, abriu campo para o desenvolvimento de todos os medicamentos usados hoje no controle da pressão alta. O insucesso dos brasileiros, embora em parte atribuído à injustiça, também revela a prioridade que o país dá ao desenvolvimento da ciência. O orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia para o ano que vem, de R$ 6,1 bilhões, é apenas o 16º dentre todas as 24 pastas federais. O investimento em pesquisa tecnológica em todo o país gira em torno de 1% do PIB. Em países como o Japão, chega a 3%. Desse jeito, ainda vamos ter de esperar muito pelo nosso Nobel. Ou torcer para que algum gênio brasileiro supere a falta de apoio.

Fernando Martins é jornalista.