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Quem não está preocupado, neste momento, com as compras de Natal que ainda tem de fazer? Em organizar as festas? No presente que tem de comprar para o amigo secreto? Ou simplesmente em planejar a viagem de férias? Dezembro costuma ser um mês em que todos ficam com a agenda cheia e a cabeça ocupada de assuntos que normalmente não fazem parte de nosso dia a dia.

Mas, enquanto estamos preo­cupados com o Papai Noel, os políticos agem. Em nenhuma época do ano as Câmaras Mu­­nicipais, Assembleias Legis­­lativas e o Congresso Nacional trabalham tanto quanto nas últimas semanas do ano.

Vota-se de tudo. Misturam-se projetos irrelevantes a propostas importantes, tal como o orçamento público para o ano seguinte – o que só prejudica o debate de assuntos relevantes para a sociedade. Mas, principalmente, inclui-se na agenda de votações projetos polêmicos que nos outros 11 meses ficam pegando pó em alguma gaveta.

Os políticos justificam que apenas estão fazendo um esforço concentrado para entrar em férias com a "pauta limpa". Mas, para quem acompanha os meandros do poder público, a concentração de votações nos últimos dias do ano legislativo tem um forte cheiro de artimanha. Um ardil natalino. Com a população mais desatenta – e o brasileiro já não é muito preo­cupado com as coisas públicas –, tudo passa sem grandes discussões; sem o saudável debate de ideias com a sociedade civil.

Foi assim que a Câmara Fe­­deral aprovou, em uma madrugada da semana passada, um projeto de lei para aumentar os salários dos servidores da Casa. Foi assim que os deputados do Paraná se autoconcederam, na madrugada do último dia de sessão de 2008, um generoso plano de aposentadoria complementar pago com dinheiro público – cuja proposta foi incluída na pauta na última hora.

Também é sem debater com a sociedade que os mesmos parlamentares estaduais do Paraná colocaram na pauta desta semana projetos polêmicos como a criação de cargos para o Tribunal de Justiça, Ministério Público e Tribunal de Contas – além de uma obscura proposta da Assembleia que extingue vagas, mas que não diz exatamente onde, privando o cidadão de saber em quais gabinetes havia excesso de servidores.

Difícil não acreditar que tudo faz parte de uma estratégia muito bem urdida: contar com a desatenção natalina para aprovar o que desagrada à opinião pública e, logo em seguida, emendar com as férias para não ter de justificar seus atos.

Fernando Martins é jornalista

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