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A história da humanidade parece fadada a ser uma eterna repetição, com novos personagens em situações já vivenciadas. Não necessariamente isso é ruim. Mas se torna negativo quando o que se repete são os erros. Tais como os que vêm ocorrendo com a forma como tratamos os nossos mananciais de água.

Quem hoje passa pelo Rio Belém costuma torcer o nariz devido ao mau odor. Alguns sequer sabem tratar-se de um riacho; pensam ser um esgotão. Mas o mais curitibano dos rios curitibanos era limpo e chegou inclusive a ser cotado para ser o manancial de abastecimento da cidade no longínquo 1877 – juntamente com o Rio Barigui, outro dos que hoje estão muito poluídos.

Naquele ano, Lamenha Lins, o então presidente do Paraná (como eram chamados os governadores na época), enviou um relatório à Assembleia Legis­­lativa informando sobre os desafios do abastecimento de água em Curitiba.

O relato de Lins é profético. "Não é capital sufficientemente abastecida de agua potavel", escreveu ele, na grafia da época. "Os chafarizes que existem são alimentados por escassos olhos d’agua que tendem a diminuir a medida que vão sendo destruídas as mattas que coroam as collinas dos arredores." Ou seja, a devastação ambiental começava a comprometer a qualidade da água dos chafarizes públicos, como os que existiam no Largo da Ordem e na Praça Zacarias.

Era preciso, portanto, procurar novas fontes de abastecimento. Lamenha Lins determinou então a realização de estudos para saber quais seriam os futuros mananciais. Dois foram elencados: o Barigui e o Belém – este último considerado de aproveitamento mais viável, pela proximidade com o centro da cidade.

Os anos passaram. Curitiba cresceu. Lamenha Lins morreu e virou nome de rua. A ortografia mudou várias vezes. Mas a degradação ambiental continuou. A cidade engoliu os dois rios, que nunca chegaram a ser usados para abastecimento público. Tivemos de buscar água em locais mais distantes. Hoje, os rios que nos abastecem estão nas franjas da capital ou fora da cidade: o Passaúna, o Iguaçu e o Iraí.

E a Grande Curitiba continua avançando sobre outros potenciais mananciais. Há estudos dizendo que, em algumas décadas, teremos de recorrer ao Rio Negro (no Sul do estado) ou ao Rio Ribeira (ao Norte da capital) para que as torneiras não sequem. Ambas opções estão a mais de 100 quilômetros de distância. É a história se repetindo, com os mesmos erros de sempre – algo a se pensar nesta semana em que se comemora o Dia da Água.

PS.: O relatório de Lamenha Lins está disponível no livro Água & Esgoto do Paraná: o que dizem os documentos oficiais, de Zair Schuster, publicado pela Sanepar em 1999.

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