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Já faz um ano e meio que a população saiu às ruas em junho de 2013 para pedir um país melhor. Passado esse tempo, é possível fazer uma análise mais distanciada daqueles acontecimentos. E a conclusão a que se pode chegar é que os black blocs impediram uma mudança significativa no Brasil. Ao se infiltrar entre os manifestantes para literalmente brigar por sua utopia minoritária – o fim do Estado e do capitalismo –, esvaziaram os protestos e contiveram a onda que pedia reformas. O impossível bloqueou o possível. A oportunidade foi perdida.

Dezoito meses depois, as preocupações que moveram as massas naquele junho se confirmaram. A euforia que tomava conta das autoridades em função da Copa, um dos motivos das manifestações, dissipou-se. O custo do Mundial não para de crescer e grande parte das obras prometidas – o tão falado legado – está inacabada.

Reportagem de ontem da Gazeta do Povo mostrou novo balanço dos gastos da competição em Curitiba, com um acréscimo de R$ 125 milhões em relação à estimativa anterior. Por outro lado, metade das obras previstas na cidade ainda está por concluir. O resultado disso aparece em recente levantamento de opinião feito pelo Instituto Paraná Pesquisas: 80% dos moradores da cidade acham que não valeu a pena trazer a Copa para a capital paranaense. No fim, o que as pessoas querem são serviços públicos melhores – como haviam pedido em junho de 2013.

É possível ainda traçar um paralelo entre o oba-oba das autoridades em relação à Copa com a euforia dos políticos a respeito da situação do país e do estado. O discurso da era da prosperidade brasileira e o slogan do novo Paraná minguaram como a economia. Não resistiram à realidade. A conta dos anos de fartura irresponsável virá agora na forma de aumento de impostos e tarifas – além de corte de gastos que inevitavelmente vão afetar a população. Uma dessas majorações é a da passagem de ônibus – o estopim das jornadas de junho. Onze capitais promoveram reajuste da tarifa do transporte coletivo desde novembro. Outras tantas devem seguir o mesmo caminho em breve. E, em um ano e meio, o país ainda não conseguiu discutir de forma efetiva meios de baixar os custos do transporte coletivo. Ou de subsidiá-lo.

Por outro lado, o ônus com que a população de todo o país terá de arcar não encontra contrapartida da cúpula do poder público. No fim do ano passado, o Congresso Nacional aprovou o aumento para R$ 33,7 mil do salário de deputados, senadores e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e para R$ 30,9 mil da presidente Dilma Rousseff e dos ministros. Os reajustes vão gerar um efeito-cascata para outras autoridades – como deputados estaduais, promotores, juízes e desembargadores.

A reivindicação pelo fim dos privilégios nas altas esferas do poder, demonstrada em 2013, também não encontrou eco. Pelo contrário. A concessão do auxílio-moradia para magistrados, no ano passado, é um exemplo de como a voz das ruas não foi ouvida pelas autoridades.

Definitivamente, parece que eles não aprenderam nada com as manifestações de junho.

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