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Não é apenas 2010 que acaba na sexta-feira. A primeira década do século também se encerra daqui a dois dias. Talvez ainda seja cedo para fazer uma análise histórica mais detalhada dos últimos dez anos, mas já é possível eleger o principal acontecimento desse início de milênio – o atentado terrorista às torres gê­­meas de Nova York, em 2001. O 11 de Setembro deixou às democracias um dilema que, quase dez anos depois, ainda está insolúvel: até que ponto é aceitável limitar a liberdade em troca de segurança?

Antes daquela manhã em que dois aviões derrubaram o World Trade Center, o mundo parecia viver uma era de ouro iniciada em 1989, com a queda do Muro de Berlim. O colapso das ditaduras comunistas era a vitória das democracias e do livre mercado. O fim da Guerra Fria indicava um planeta mais seguro. A prosperidade econômica da maioria das nações nos anos 90 corroborava o sentimento de que, enfim, os países haviam compreendido que o caminho da liberdade era o melhor.

Mas o sonho de conjugar um mundo cada vez mais livre e próspero desabou junto com as torres nova-iorquinas. O terror conseguiu inocular na sociedade ocidental, através do medo, a dúvida sobre os valores democráticos.

Países, sobretudo europeus, passaram a restringir a liberdade de religião dos muçulmanos por meio de subterfúgios como a proibição do uso de véus islâmicos nas ruas. E, em nome da segurança, as democracias ampliaram a vigilância sobre a sociedade – a ponto de restringir as liberdades civis e de criar um perigoso aparato eletrônico de espionagem da vida privada dos cidadãos.

Em outras palavras, o Estado passou a prometer mais segurança em troca de menos liberdades – discussão que não se encerra no terrorismo, mas que também tem um foco sobre a criminalidade em países como o Brasil.

Aceitar essa "oferta" de um mundo mais vigiado, porém, exigirá uma revisão do pacto social sobre o qual se ergueu, ao longo de séculos, o Estado democrático moderno – concebido como a entidade para a qual o cidadão aceita ceder parte de seu direito de ser livre em troca da garantia de que o governo vai dar segurança a todos.

Aparentemente, a atual proposta de menos liberdade não implica revisão do contrato. Apenas aparentemente. Na construção das democracias, consolidou-se também o conceito de que o aparelho estatal não pode abusar de seus poderes em nome de nada. Para isso, garantiram-se liberdades civis na esfera pública (de associação, reunião, religião e expressão), além de direitos para preservar a intimidade, tal qual a inviolabilidade da correspondência. Portanto, o que o novo pacto social que está colocado propõe é promover um avanço do Estado sobre a esfera íntima, além de enfraquecer algumas das liberdades civis.

Os escombros do World Trade Center foram removidos em apenas oito meses. O memorial e os seis novos prédios que ocuparão o lugar dele já estão sendo construídos. Mas ainda não se sabe exatamente qual Estado se erguerá sobre o que restou do atentado. Talvez essa seja a grande discussão da década que se inicia.

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