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Para defender seu mandato no Senado, a presidente Dilma Rousseff classificou seu impeachment como “pena de morte política”. Usando esse forte recurso de retórica, ela transformou seu discurso num grande epitáfio do fim de sua vida pública. Nele, a presidente busca demonstrar altivez, força e até emoção: a imagem que quer passar à posteridade. Mas há pouco de arrependimento. Dilma reconhece ter cometido erros. Não diz quais. Em seu íntimo, talvez ela cultive o remorso sobre o que poderia ter feito de diferente. Seria um aprendizado tardio. Mas um aprendizado – que vale inclusive a quem não quer chegar ao fim (simbólico ou não) frustrado.

É curioso ver como alguns dos principais erros de Dilma, segundo a análise de vários especialistas, se encaixam como uma luva na descrição dos maiores arrependimentos de quem chegou à beira da morte e percebeu que aprendeu tarde demais o que importa. Professor de Desenvolvimento Humano da Cornell University (EUA), Karl Pillemer coletou cerca de mil depoimentos de idosos que contaram o que fizeram de certo e errado. Os relatos foram transformados em conselhos e reunidos no livro 30 Lessons for Living (“30 lições para viver”, em tradução livre). Parte deles – e a relação com Dilma – está logo abaixo.

Em seu íntimo, talvez Dilma cultive o remorso sobre o que poderia ter feito de diferente

Casamento

Na vida pessoal, uma união duradoura é mais provável se o casal compartilhar os mesmos valores e objetivos. Na política, partidos se aliam uns aos outros – como se estivessem casados. A base aliada que sustentava o governo de Dilma no Congresso, porém, compartilhava poucos valores comuns. Havia siglas de todos os espectros ideológicos. Era um casamento de conveniência, movido a distribuição de cargos e emendas parlamentares. O fato é que a ausência de afinidade ideológica entre as legendas indicava um risco permanente: o divórcio antes do fim do mandato. Foi o que ocorreu quando a economia do país deu marcha à ré – finanças costumam ser causa relevante de separações. Antigos parceiros, como o PMDB, não hesitaram em trair Dilma para arrumar outro casamento mais vantajoso.

Gostar do que faz

O sucesso profissional, no relato dos idosos americanos, resulta de escolher um emprego de que se gosta. Que faça ter vontade de levantar todos os dias para ir trabalhar. E não do salário recebido. Dilma – não é segredo para ninguém – aprecia as atividades gerenciais, mas não a política em si, uma função típica dos presidentes: negociar com os aliados. A presidente delegou essa atividade a vários auxiliares. E criou fortes inimizades com os congressistas, que se sentiram desprestigiados.

Contatos sociais

Outra dica de ouro para a vida pessoal, segundo os depoimentos colhidos por Karl Pillemer, é evitar o isolamento. Dizer sim aos convites que receber. Aproveitar o contato com os outros, inclusive com aqueles que não concordam com você, para aprender. A presidente em muitos momentos se encastelou no Planalto para evitar negociações políticas.

Honestidade

Segundo os relatos dos idosos dos EUA, uma das principais causas de arrependimento no fim da vida é não ter sido honesto. Para se reeleger, Dilma evitou revelar a verdadeira situação do país. Quando a economia deu mostras claras de que não ia bem, logo depois da reeleição, a presidente perdeu a confiança que a população havia depositado nela ao dar-lhe mais um mandato. Além disso, os sucessivos escândalos revelados pela Operação Lava Jato exigiam respostas mais duras da presidente, tal como o afastamento de suspeitos. Isso não foi feito de acordo com a expectativa da população. E o governo ficou com a imagem de corrupto – ou desonesto, como queiram.

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