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O vulcão Puyehue lança muito mais do que cinzas a milhares de quilômetros de distância da Patagônia chilena. Ao promover o caos aéreo em seis países da América do Sul – além da Austrália e da Nova Zelândia, do outro lado do planeta –, a fumaça cuspida de dentro da terra, paradoxalmente, pode servir para desanuviar a visão embaçada que a maioria tem a respeito do meio ambiente.

As cinzas vulcânicas têm o poder de religar os homens a sua condição de partícipes da natureza, e não de seres isolados e imunes a ela – como a pressa do dia a dia por vezes leva a crer. Um evento natural tão afastado, enfim, afeta o cotidiano daqueles que precisam pegar um simples avião para fazer negócios ou viajar a passeio.

Nas questões ambientais, sempre foi assim, embora às vezes isso não esteja claro. A natureza é um sistema complexo e interligado em que as relações de causa e efeito podem estar distantes no tempo e no espaço. Um sistema no qual também pode haver inúmeras variáveis envolvidas: acontecimentos têm muitas causas; e fatos isolados provocam efeitos múltiplos.

O aquecimento global, por exemplo, é um processo histórico iniciado com a Revolução Industrial, na Inglaterra do século 18, que só nos últimos tempos tem tido consequências mais evidentes – inclusive em regiões não povoadas, não industrializadas e tão longínquas como o Ártico e a Antártida, onde o gelo está derretendo. Do mesmo modo, as causas do efeito estufa são imensamente variadas: da chaminé das fábricas aos canos de escape dos automóveis, passando pelas queimadas na Amazônia.

A erupção do Puyehue, embora não seja produto da mão humana, é um desses eventos que parece comprimir o espaço e o tempo entre causa e efeito na natureza. As cinzas vulcânicas não conhecem fronteiras, se espalham ao sabor dos ventos rapidamente e provocam danos quase que imediatos para o homem, mesmo que em locais distantes de sua origem.

Com isso, o vulcão chileno torna-se uma espécie de modelo miniatura do próprio meio ambiente, no qual há uma ligação entre tudo, nem sempre evidente, mas que desta vez é perceptível. Ao custo de voos cancelados e dissabores aos viajantes, as cinzas do Puyaehue têm o mérito de abrir os olhos das pessoas e deixar essa lição: na natureza nada sai impune. Ou seja, toda ação tem seu efeito. Inclusive as humanas.

Em um momento no qual o planeta enfrenta uma crise ambiental, perceber mais claramente as relações de causa e efeito do homem na natureza é um passo importante para evitar o pior. Nem que para isso seja preciso olhar para além da fumaça do vulcão.

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