Não estranha o deputado Edmar Moreira devotar tanta fascinação pelos castelos medievais. Na Idade Média, não havia o conceito de "coisa pública".
A história do deputado mineiro Edmar Moreira, dono de um inusitado castelo medieval nos trópicos e do "insanável vício da amizade", na verdade é um triste resumo de grande parte dos problemas políticos do Brasil. Vamos a eles:
Antirrepublicanismo: ao propor o fim dos processos de cassação de deputados acusados de quebra de decoro sob o argumento de que os parlamentares sofreriam do "vício da amizade", Edmar Moreira trouxe para o espaço das decisões públicas um elemento das relações pessoais. Isso não deveria ocorrer. A própria definição de República do latim "res publica", ou "coisa pública" é contrária à contaminação da esfera estatal por interesses pessoais. Não estranha o deputado devotar tanta fascinação pelos castelos medievais. Na Idade Média, não havia o conceito de "coisa pública" afinal, o espaço em que viviam as pessoas era uma propriedade particular, pertencia ao senhor feudal. As decisões dos nobres, que afetavam a vida de todos, não eram pautadas pelo interesse coletivo. Edmar Moreira, de certa forma, exterioriza em pleno século 21 uma forma de pensar e agir persistente no país: o antirrepublicanismo.
Corporativismo: a "amizade" do deputado com seus colegas nada mais é do que um sinônimo do corporativismo que reina no Congresso. O parlamento, em vez de se tornar o lugar do debate de temas que afligem a sociedade, se isola para defender seus próprios interesses. O resultado é uma separação radical entre a vida real e a vida parlamentar. Os congressistas parecem viver em um mundo de contos de fadas, tão fantasioso quanto o castelo no interior de Minas.
Legislar em causa própria: Edmar Moreira construiu o castelo pensando em transformá-lo em um cassino. Detalhe: a legislação não permite o funcionamento de cassinos no país. O deputado esperava ver aprovado um projeto de lei para legalizar a atividade e lucrar com ela.
Partidos fracos: o deputado concorreu ao cargo de segundo vice-presidente da Câmara contrariando a orientação de seu partido, o DEM. É um dos muitos exemplos da fraqueza dos partidos no país. As legendas deveriam aglutinar homens públicos com ideologia semelhante para discutir propostas para o país. Na verdade, os partidos são um amontoado de pessoas com interesses diversos que veem na filiação a uma legenda uma obrigação legal a cumprir, para que possam participar das eleições.
O agressor vitimizado: com muitas suspeitas pairando sobre suas atividades e sob o risco de ser expulso do DEM, Edmar Moreira posou de vítima. Disse estar sendo perseguido pelo partido. É a típica estratégia do agressor vitimizado, que tanto encanta expressivas parcelas dos políticos. Essa inversão de valores se materializa, por exemplo, quando se culpa a sociedade pela criminalidade. De acordo com essa visão de mundo, os transgressores da lei na verdade são vítimas de seu meio social uma justificativa para abrandar eventuais punições.
Deixe sua opinião