• Carregando...

Qualquer ser humano gostaria de deixar alguma marca de sua existência, de sua passagem pela Terra. Um grande feito que seja lembrado por gerações. Uma obra que perdure. Talvez poucos saibam, mas todos nós já deixamos uma herança significativa para as futuras gerações. Independentemente de quão positivas sejam nossas intenções, a má notícia é que nosso legado não será necessariamente bom. Ao menos quando falamos de meio ambiente.

Em 1992, o ecologista canadense William Rees cunhou a expressão "pegada ecológica" – um conceito que define qual é a marca (ou pegada) que deixamos sobre a natureza durante nossas vidas. Tecnicamente, a pegada ecológica é a área territorial necessária para produzir os alimentos, a energia e as matérias-primas dos produtos que cada um consome.

O brasileiro, por exemplo, tem uma pegada ecológica de 2,1 hectares, segundo o Relatório Planeta Vivo 2006, da ONG Footprint Network. Isso significa que, por mais que cada um de nós more em uma minúscula quitinete, necessita de uma área equivalente a dois campos de futebol para manter o padrão de vida.

Dois campos de futebol pode não parecer muito. Mas, multiplicando o impacto individual pela população de uma cidade como Curitiba, chega-se à conclusão que os 1,8 milhão de curitibanos precisam de 37,8 mil quilômetros quadrados para se "saciarem". É aí que começam a aparecer os problemas: a capital paranaense tem apenas 430 quilômetros quadrados de área. Ou seja, a cidade, do ponto de vista ambiental, não é sustentável. Causa um impacto ecológico em uma extensão 88 vezes maior que seu próprio território.

A pegada ecológica de todos os 10,5 milhões de paranaenses – 220,5 mil quilômetros quadrados – também já é maior do que a área territorial do Paraná, pouco menos de 200 mil quilômetros quadrados. Isso significa que o estado precisa "exportar" danos ambientais para "importar" qualidade de vida – algo, aliás, que países desenvolvidos com tamanho diminuto fazem há muito tempo.

O Brasil, porém, ainda tem uma relação confortável. O território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados é mais do que suficiente para os 190 milhões de brasileiros. A pegada brasileira sobre a natureza é de "apenas" 4 milhões de quilômetros quadrados. Isso não significa, porém, que podemos nos descuidar. Muito pelo contrário. É um alerta de que precisamos mudar nosso padrão de consumo e, principalmente, de desperdício. É um indicativo de que talvez devamos nos esforçar para que nosso maior legado seja justamente a menor marca possível de nossa passagem pelo planeta.

Fernando Martins é jornalista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]