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Nos últimos tempos, ando dado a olhar para o céu, para as estrelas. É uma paixão de infância que andava adormecida. E, como toda paixão, sujeita aos humores do objeto de desejo. Não é muito fácil, afinal, vê-las nesta Curitiba constantemente nublada. Mas talvez não haja melhor época para tirar os olhos do chão e erguê-los ao alto do que agora, quando o ar frio que vem do Sul começa a soprar com mais frequência, varrendo as nuvens para longe – como o vento faz com as folhas secas do outono.

A espera pelas noites sem nuvens vale a pena, porém. Com a ajuda de um astrônomo apaixonado pelo que faz e de um bom telescópio, dia desses descobri que o céu guarda um pequeno tesouro. Um aglomerado de estrelas de diferentes cores, bem ao lado do Cruzeiro do Sul, se parece com um punhado de brilhantes. De forma inspirada, o conjunto estelar foi batizado de Caixinha de Joias.

Mas a beleza não é tudo que há nas noites estreladas. Na ânsia de encontrar respostas para si próprio, o homem buscou nelas a perfeição e a eternidade. Enquanto o mundo aqui embaixo é sujeito a mudanças constantes e por vezes imprevisíveis, o firmamento noturno parece calmamente eterno. As dores e alegrias humanas vão e vêm, mas as estrelas passam todas as noites sobre nossas cabeças, por milênios. Sem mudar.

Somos poeira das estrelas. É ciência. Mas também é poesia

Mas a ciência nos diz que isso é apenas aparência. Os céus também mudam. Apenas num ritmo muitíssimo mais devagar do que podemos perceber. Longe de uma desilusão, isso pode ser um aprendizado. Mostra como nossas vidas são curtas na imensidão que nos cerca – e como, naturalmente, temos de fazê-las valer a pena. Os tempos celestes são literalmente astronômicos. As luzes das estrelas chegam a viajar milhares, até milhões de anos, para atingir nossos olhos. O que vemos hoje é um passado muito distante. Admirá-las é como viajar no tempo. Algumas estrelas que olhamos talvez nem mesmo existam mais. E, quando o brilho que outras tantas produzem neste momento chegar aqui na Terra, há muito já seremos pó.

Diz-se, aliás, que do pó viemos e ao pó voltaremos. E isso também tem um pouco a ver com as estrelas. Parte delas, quando se aproxima do fim e vai ficando sem combustível para queimar, começa a fundir em seu interior elementos químicos mais pesados que o hidrogênio e o hélio, em seu “desespero” para sobreviver. O capítulo derradeiro dessa história é uma explosão estelar que espalha poeira e gás pelo infinito. Mas o fim é só um novo começo. A gravidade trata de juntar esse material em novas estrelas – e também em planetas. Tudo o que existe em nosso mundo, portanto, foi forjado no crepúsculo dessas gigantes do céu. Inclusive eu e você; nossos ossos, nossa carne. Sim, somos poeira das estrelas. É ciência. Mas também é poesia. Resta a cada um saber brilhar, como elas fazem no firmamento.

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