No calor das campanhas eleitorais, veículos de comunicação e jornalistas costumam ser alvos preferenciais de candidatos, partidos, militantes e simpatizantes de todas as correntes ideológicas. Obviamente, há bom e mau jornalismo – como há profissionais corretos e antiéticos em quaisquer atividades. O fato de haver críticas mostra que a imprensa não está acima do bem e do mal. Mas os erros ou desvios jornalísticos acabam por suscitar em alguns segmentos a defesa da proposta de controle governamental da mídia. O curioso é que as eleições são períodos em que, por outro lado, pode-se vislumbrar como nenhum outro o que seria um mundo sem jornalismo: o império da propaganda, um permanente horário eleitoral gratuito.

CARREGANDO :)

Os programas eleitorais dos candidatos no rádio e na televisão são exemplos perfeitos de ambiente em que os políticos falam o que querem sem ser questionados – a não ser pelos seus adversários. Em geral, sobra muito marketing e falta conteúdo. O que é mostrado pelos governantes que tentam se reeleger é algo distante da realidade: o que está bom é exagerado e o que vai mal, omitido. Do lado oponente, a equação se inverte. E, por mais que haja elementos jornalísticos na forma como tudo é apresentado ao eleitor, numa estratégia para passar mais credibilidade, aquilo não é jornalismo. É pura propaganda.

Em entrevista à rádio CBN na última sexta-feira, o professor de Jornalismo da USP Eugênio Bucci chamou a atenção para outro exemplo extraído das campanhas eleitorais que mostra o risco da ausência da imprensa: os debates entre candidatos. No segundo turno da eleição presidencial, nenhum embate ao vivo entre Dilma Rousseff e Aécio Neves teve a presença de jornalistas para fazer questionamentos aos concorrentes e corrigi-los a respeito de declarações que não condizem com a realidade. Reportagem da Gazeta do Povo a respeito do debate da Band, por exemplo, mostrou que, de 15 assuntos polêmicos tratados pelos dois na discussão, em apenas seis os fatos expostos pelos concorrentes correspondiam integralmente à verdade.

Publicidade

Bucci destacou ainda que a "expulsão" do jornalismo dos debates foi promovida de comum acordo entre o PT e o PSDB, já que as regras dos embates têm de ser aprovadas pelas duas campanhas. E o resultado foi o que se viu: um "diálogo entre surdos", segundo palavras do professor da USP, em que um não respondia às perguntas formuladas pelo outro, o que logo descambou para a troca de acusações – inclusive pessoais. O debate da Globo, ocorrido poucas horas após o comentário de Bucci, conseguiu impor a Dilma e Aécio um pouco de racionalidade ao incluir eleitores para questionar os candidatos, como fazem os jornalistas. Foi uma das poucas oportunidades em que eles deixaram o marketing de lado e tiveram de se confrontar com o mundo real.

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

Veja também
  • A água no centro
  • Profissão das profissões
  • As entrelinhas do Jardim Botânico