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A escolha de Curitiba como subsede da Copa do Mundo de 2014 ge­­rou um efeito negativo sobre as discussões a respeito do transporte público na cidade. A construção do metrô, apresentado como a grande obra da cidade para o Mundial, tomou conta do debate e parece inebriar seus defensores, que vislumbram no trem subterrâneo a panaceia para os males do trânsito.

Apostar na discussão exclusiva do metrô é correr o risco de gastar latim. Quem tem um pouco de memória lembra das inúmeras vezes que o projeto, sob diversos formatos, foi apresentado à população, sem que tenha saído do papel. Já houve a versão bonde elétrico. Depois veio o trem elevado, que fazia parte do projeto da atual Linha Verde – na época chamada de Eixo Me­­tro­­politano. E, agora, é o metrô sob as canaletas do eixo Pinhei­rinho-Centro-Santa Cândida.

Mas, ainda que o metrô seja u­­ma das possíveis soluções para o problema da superlotação dos ôni­­bus, não é a única. Aliás, só re­­solveria o problema parcial­men­te, nas regiões que seriam atendidas pela linha. O restante dos passageiros continuaria a se es­­premer em ônibus cheios. É necessário, portanto, pensar em alternativas.

Mas grande parte das outras ideias para aperfeiçoar o atual sistema de ônibus parece ter sido descartada, está esquecida em alguma gaveta ou de­­mora de­­mais para ser implantada.

A construção de trincheiras nas ruas que cruzam as avenidas com canaletas, possibilitando que os ônibus não precisem parar nos cruzamentos, criando uma espécie de metrô de superfície, já foi cogitada por técnicos da prefeitura. Ninguém sabe que fim a ideia levou. A destinação de mais espaços exclusivos para os ônibus parou no tempo. Há quanto tempo você não vê uma nova faixa exclusiva na cidade?

Pequenas ideias que melhorariam a vida dos passageiros também demoram muito para sair das pranchetas. É o caso do projeto que permitiria ao passageiro usar o cartão-transporte para pagar uma única passagem quando desembarcasse de uma linha não integrada e pegasse outro ônibus, no prazo de até uma hora depois do desembarque.

A antiga promessa de permitir que os usuários do cartão-transporte não tenham descontados R$ 2,20 aos domingos, quando a tarifa é de R$ 1,00, também ainda não foi implantada.

Curitiba, que já inovou ao inventar o ligeirinho, parece ca­minhar devagar ao propor novas soluções para o velho desafio do transporte coletivo. Sonhar com o metrô é legítimo. Mas não temos mais tempo para nos iludir.

Fernando Martins é jornalista.

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