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Estava lá, entre as páginas emolduradas nas bordas em sequência pelo amarelado do tempo. Não perdida, posto que servia de "marcador" de página. O livro: Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense, de Mecenas Dourado, edição da Biblioteca do Exército Editora, 1957. Sobre o Hipólito, alvo de homenagens por conta dos 200 anos da imprensa brasileira, da qual virou o patrono, saltemos de banda.

O que vale é a folha solta, dirigida ao "prezado subscritor", no caso, o tenente Saladim Pereira de Camargo, meu pai. Mantenho, até em homenagem à reforma atual, a ortografia da época. "A Biblioteca, como é de seu conhecimento, tem por objetivo primordial o desenvolvimento e a atualização da cultura geral e profissional no meio militar. Para que a programação editorial atinja essa elevada finalidade, os recursos provenientes da contribuição mensal de seus subscritores – únicos recursos de que dispõe – são flagrantemente insuficientes, face ao acelerado e descompassado aumento do custo editorial, traduzido no preço do papel da confecção gráfica, atualmente ainda mais encarecida em virtude dos novos níveis do salário mínimo, da remuneração dos autores, tradutores, ilustradores, revisores etc".

"O prezado leitor já deve ter tido a oportunidade de verificar, pelo confronto com livros de editôras civis, a disparidade de preços entre os nossos volumes e os ùltimamente distribuídos ao mercado por outros editôres". E cita exemplos: A Concepção da Vitória entre os Grandes Generais, 180 páginas, traduzido do francês, capa em tricomia, saiu por apenas Cr$ 20,00 (vinte cruzeiros). O Velho e o Mar, 150 páginas, por Cr$ 40,00 (quarenta cruzeiros).

Como "tal disparidade acarreta um regime deficitário para a Biblioteca", para poder cumprir seu programa cultural, "só poderá fazê-lo com o apoio de seu quadro de subscritores e, como é óbvio, mediante a elevação da mensalidade. Acreditamos, por outro lado, que fixando êsse acréscimo (o itálico é do texto original) em Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) seu orçamento não será sensìvelmente onerado, dado o reduzido poder aquisitivo atual dessa quantia". E, "em testemunho dessa asserção, vejamos alguns dados colhidos ao acaso e que incidem sôbre despesas comuns, algumas delas diárias:

– Cigarros Hollywood: carteira – Cr$ 8,00

– Chope duplo: Cr$ 10,00

– Cerveja – garrafa: Cr$ 12,00.

– Refeições a preços fixos: Cr$ 30,00 a Cr$ 45,00.

– Telegrama de texto mínimo: Cr$ 16,00 a Cr$ 45,00.

– Entrada de cinema: Cr$ 12,00.

– Cinemascope: Cr$ 18,00.

– Arquibancada para jôgo de futebol (comum): Cr$ 17,00.

– Arquibancada para jôgo internacional: Cr$ 28,00.

– Corte de cabelo: Cr$ 20,00.

– Lavagem de um terno de roupa: Cr$ 35,00 a 40,00.

– Mensalidades de Clubes Recreativos (média): Cr$ 40,00.

– Entrada de teatro de revista: Cr$ 60,00 a Cr$ 90,00.

– Entrada de teatro de comédia: Cr$ 100,00 a 120,00.

Aí está, prezado subscritor, o que ocorre com a sua Biblioteca e o que é mister fazer para auxiliá-la. O acréscimo de Cr$ 10,00 na mensalidade, passando-a de Cr$ 20,00 para Cr$ 30,00 que só é efetuado em razão dos fatos expostos.

Atenciosamente, Umberto Peregrino".

PS: À época, Umberto Peregrino era tenente-coronel, integrando uma diretoria com gente igualmente de peso, caso, dos também à época, tenente-coronel Nelson Werneck Sodré e coronel Manuel Cavalcanti Proença.

camargo@gazetadopovo.com.br

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