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Do tempo em que poluição sonora era algo simplesmente inaudível. Em 1930, Noel Rosa transformou uma pergunta bastante comum – e torturante tal qual "aquele" band-aid no calcanhar – em grande sucesso. Foi Com que roupa?, samba que retrata a pobreza, a fome e a miséria. A letra contava que "Agora eu vou mudar minha conduta/Eu vou à luta, pois eu quero me aprumar/Vou tratar você com força bruta/Pra poder me reabilitar/Pois essa vida não tá sopa, e eu me pergunto com que roupa?/Com que roupa eu vou?/Pro samba que você me convidou/ Com que roupa eu vou? Pro samba que você me convidou".

Pois é, as coisas até que mudaram, mas não na essência, e a roupa continua "fazendo o homem". Ou a diferença.

Como lembra o Beronha, até mesmo para descolar um "papagaio" ainda é aconselhável ir de terno e gravata – para impressionar o gerente e dar a impressão de que não está com uma mão na frente e outra atrás.

Mas, falando igualmente sério, Natureza Morta preferiu ir, como ele mesmo fez questão de frisar, "ao cerne da questão". Não, não se trata da velha Estrada do Cerne, que levava e trazia a turma de Castro.

Que todo mundo nasce pelado, parece não restar a menor dúvida, embora alguns venham à luz menos pelados que outros. E com berços quentinhos à espera.

Mas esses são poréns que vêm depois. Foi na Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que o solitário da Vila Piroquinha topou com a notícia, certamente a mais relevante em se tratando de vestuário: "As mais antigas fibras usadas por humanos foram descobertas por um grupo de cientistas na Geórgia, república do Cáucaso. As fibras, de linho (Linum usitatissimum), eram usadas há mais de 30 mil anos, como descreve artigo publicado na revista Science. De diferentes dimensões, as fibras eram empregadas como cordas ou linhas para amarrar ferramentas de pedra e costurar cestos ou vestimentas. Eram trançadas ou usadas com numerosos nós e até mesmo tingidas, em tonalidades como cinza, preto, azul ou rosa".

– Daí nasceu o terninho azul de primeira comunhão! festejou Beronha.

Voltando à notícia: "Essa foi uma invenção fundamental dos primeiros humanos. Os itens criados com a ajuda das fibras aumentavam as chances de sobrevivência e de mobilidade nas condições adversas encontradas na região montanhosa. Os cientistas estimam que as fibras podem ter sido usadas para a manufatura de roupas e calçados, que garantiriam a sobrevivência durante o rigoroso inverno. As amostras descobertas não são visíveis ao olho nu porque os itens que elas prendiam foram desintegrados há muito tempo. Os pesquisadores descobriram as fibras por meio do exame microscópico de amostras de argila retiradas de diferentes camadas da caverna."

Na falta de cabide, no entanto, algumas perguntas continuam no ar: quando o diabo passou a vestir Prada? Onde encontrar hoje em dia, bem à mão, um alfaiate? Quando surgiu a assertiva ("assertiva? o que é isso, quis saber Beronha, todo assustado) segundo a qual "fulano de tal não dá ponto sem nó"?

De qualquer modo, ainda bem que restou espaço para o Homem Nu da Praça 19 e O Homem Nu, de Fernando Sabino.

Francisco Camargo é jornalista

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