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Ainda bem que passaram. O Natal, o 31 e o décimo-terceiro que nem deu para o gasto. Para Natureza Morta, sem nenhum sintoma ou mania de perseguição, o fim de ano é um tormento. Igualzinho, segundo ele, a supermercado. Você chega, olha, está vazio. Quando você entra, surge gente de todos os lados, aos borbotões. "Suspeito que o pessoal fique de atalaia, atrás das colunas, das gôndolas e dos monturos de repolhos, aguardando o momento de dar o bote para azougar-lhe a vida", diz.

E no febril período pré-natalino e no porre nacional que marca a passagem de ano, há cenas que se repetem à exaustão. E não que não tenham ocorrido durante todo o ano, exatamente no fim do mês. Exemplo: o cidadão no caixa eletrônico que insiste em sacar o que não tem (R$ 10), ignorando olimpicamente os repetidos avisos "insuficiência de fundos".

"O cartão tá com defeito...", procura se justificar, ainda trancando o acesso ao caixa. E, na fila que se esparrama, a impaciência se multiplica – com juros e correção monetária.

O jogo da vida

Confesso – não que isso tenha alguma relevância – que, entre outras coisas da vida, não entendo nada de cartas de baralho. Muito menos de jogos, como o apreciadíssimo – basta andar por aí – truco. Ou truquê, como se diz também. Corte rápido. Estou na bodega do seu Ivo, Pato Branco, sábado, meio da tarde, dezembro, sol a pino.

São quatro jogadores à mesa. Um quinto, o tradicional peru, ao lado daquela fantástica invenção, a pequena mesa, rasteira, com buracos para estaquear a garrafa de cerveja e os copos de cerveja e de bebidas mais quentes – do histórico martelinho ao trançado do "seu" Armin. Registro as "explosões", sempre alegres.

– Onze a 8!

– Arigó!

– Ê, bicho véio!

– Duas figuras? Não jogue!

– Você viu? Não é carta que joga, é a categoria!

– Truco? Joguei no Brasil inteiro. Fui campeão em Caxias do Sul e Frederico Westphalen!

– Deus é gaúcho de Passo Fundo!

– Não! Deus é do mundo!

Enquanto isso...

Na recente visita ao Rio, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, deitou elogios ao presidente Lula, defendendo a presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU e nas discussões sobre a economia mundial. O mais interessante, no entanto, como notou – e anotou – o Natureza, foi o detalhe nessa declaração, a empresários franceses e brasileiros:

– Eu e Lula nos entendemos. Ele diz algo que faz sentido. Muitos falam muito e não dizem nada.

Natureza:

– Para quem insiste em dizer que o presidente não sabe falar e não sabe do que fala, com seu repertório popular, curto e grosso e às vezes um tanto chulo, o cala-boca (ou seria tapa de luva?) veio do ilustre e ilustrado e douto presidente da não menos culta e ilustrada república francesa.

Ou, como disse o poeta Ferreira Gullar, "a crase não foi feita para humilhar ninguém".

No outro canto da sala, na mansão da Vila Piroquinha, Beronha, sorvendo um suco de cevada bem gelado, passa os olhos (não é aconselhável ir além disso) pela manchete de um jornal de São Paulo: "Obama amplia pacote para salvar emprego".

Pergunta do nosso anti-herói:

– Qual, o dele?

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