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Inevitável. Depois do caso da saia curta da estudante e outras coisas de altíssima relevância e interesse público, como o menu do casamento da top Gisele Bündchen (churrasco, sorvete e champanhe), sobrou para Barack Obama. Pelo que Natureza Morta ficou sabendo, a reverência do presidente da nação mais poderosa do mundo ao imperador Akihito, nesta semana, provocou polêmica nos EUA.

Fotos da cena "inflamaram os ânimos" em Washington, com críticas de que Obama, ao representar o país no exterior, deveria se comportar "de igual para igual" diante de outros dirigentes.

Segundo Beronha, mais ligadão nesse tipo de jornalismo, talk shows políticos exibiram a imagem centenas de vezes, enquanto a internet, é claro, fervilhava com a discussão a respeito. Para o comentarista William Kristol, da Fox News, talvez Obama tenha pensado que "ficaria bem" no Japão, mas "não é apropriado para um presidente americano se curvar diante de um estrangeiro". Já um político conservador, entrevistado pela TV CNN, disse que foi tudo muito feio e inadmissível: "Nós não reverenciamos imperadores. Não reverenciamos reis ou imperadores".

E, é claro, teve gente que fez comparações e desenterrou a foto do ex-vice-presidente Dick Cheney. Em 2007, cumprimentou o imperador do com um firme aperto de mão, não mais que isso.

Mesura por mesura, os críticos recordaram ainda o gesto de Obama, em abril, diante do rei Abdullah, da Arábia Saudita, na reunião do G20, ressaltando, porém, que o episódio do Japão possui um tom "particularmente desagradável" para os norte-americanos. Poucos pensaram o contrário: a ativista democrata Donna Brazile classificou a mesura completa diante do imperador como "um gesto de gentileza", para demonstrar "boa vontade entre duas nações que se respeitam".

Para encerrar a questão, Natureza lembrou que Obama teria mesmo de se curvar ao apertar a mão do anfitrião.

– Ele tem 1,87 metro. Akihito, talvez um metro e meio...

Beronha concordou:

– Desconcertante mesmo seria o imperador subir num banquinho...

Além disso, Obama é Nobel da Paz e tem 48 anos. O imperador, 75. E no Japão, manda a cultura milenar, os mais velhos merecem total respeito e reverência.

A propósito: o escritor Shimon Miura, velho amigo e profundo conhecedor da Casa Imperial, contou tempos atrás, em Tóquio, uma breve história envolvendo Akihito. Explicou que não gostava da palavra imperador. Lembrava imperador romano. Assim, ele, Miura, preferia "mikado", que significaria portão, algo que daria acesso a "um outro lado", que transcenderia. Ou, "o rei que foi nominado por Deus". E, pela Constituição, o imperador é "teno". Mas, indo direto ao caso: terminada a guerra, com a ocupação norte-americana e a radiação nuclear em Hiroshima e Nakasaki, o pequeno príncipe passou a frequentar uma escola, como os outros mortais.

Lá, o professor de inglês insiste em chamá-lo de "Jimmy". Akihito reagiu, pois esse não era seu nome. Mas, como o país, teve de se curvar a todo um processo de americanização, goela abaixo.

De qualquer modo, apesar do beisebol, o sumô continua o primeiro esporte do país.

Questão de peso. Cultural.

Francisco Camargo é jornalista.

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