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221b Baker Street, London, England. Esse é considerado um dos endereços mais famosos do mundo. É do Museu Sherlock Holmes, embora, para Beronha, o mais importante deles não tenha mudado de local. Continua na Vila Piroquinha, mais precisamente na mansão da Vila Piroquinha. E foi lá, na tradicional "visitinha" para tomar a fresca da tarde – fresca que só termina na madrugada do dia seguinte –, que o nosso anti-herói aproveitou para consultar Natureza Morta sobre um de tal Holmes.

– Se eu conheço? Conheço, e você?

– Só de vista. Foi na tela do cinema.

O filme de Guy Ritchie mereceu críticas favoráveis e recebeu alguns reparos quanto à escolha de Robert Downey Jr. para o papel principal. Verissimo, inclusive, chegou a sapecar: "Mas Robert Downey Jr.?!"

Natureza concorda, até porque, para ele, um suposto saudosista de provável carteirinha, bom mesmo era Basil Rathbone, que interpretou seguidas vezes o detetive de Arthur Conan Doyle.

Na dúvida, o melhor é seguir em marcha batida rumo aos textos de Doyle. Na velha e tradicional leitura, cada um tem o privilégio de criar, mentalmente, a seu gosto e livre arbítrio, o tipo físico, os trejeitos, cacoetes, o semblante e até mesmo a inflexão da fala de Sherlock. Uma experiência fascinante que ocorre com Diadorim, de Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. Fisgado pela narrativa, o leitor constrói a figura do sertanejo que, estranha e insidiosamente, mexe lá no fundo dos sentimentos de Riobaldo Tatarana. Na transposição para a televisão, em 1985, embora a minissérie da Globo tenha sido feita com cuidado e talento, o "enigma" Diadorim não se sustenta, desfazendo-se logo na primeira aparição. Era nada mais nada menos do que a esfuziante Bruna Lombardi. No outro canto, Tony Ramos, o atormentado Riobaldo. Bem antes, em 1965, a história tinha sido levada ao cinema pelos irmãos Santos Pereira (Geraldo e Renato). Ocorreu o mesmo. O motivo oculto de tamanha atração que o companheiro despertava em Riobaldo evaporou-se de imediato, às vezes entre risos e gracejos da plateia. No caso, o papel era de Sônia Clara. Aliás, à época, quando existia crítica cinematográfica, um dos comentários foi de uma frieza digna de Joãozinho Bem Bem. Na­­tureza recorda o que um crítico escreveu sobre o filme:

– Era para ser um épico. Virou hípico.

De fato: era uma cavalhada passando a galope a todo momento.

– Bem Bem? Quem é esse cara?

O chefe de cangaceiros do conto A Hora e a Vez de Augusto Ma­­traga, também de Guimarães Rosa, filmado por Roberto Santos em 1965. Leonardo Villar é Matraga, Joãozinho Bem Bem, Jofre Soares. Em tempo: a música é de Geraldo Vandré. "O terreiro lá de casa/Não se varre com vassoura/Varre com ponta de sabre/Bala de metralhadora."

Mas, como sempre cabe em casos que envolvem espanto e suspense, eis que um apagão deixa a mansão às escuras. Em seguida, alguém bate à porta. Natureza não deixa por menos:

– Deve ser o professor Moriarty... Ou Arsène Lupin, o ladrão refinado.

A nossa única salvação é que seja Lestrade, o inspetor-chefe.

Sem saber quem era quem, Be­­ro­­nha foge pela janela, sumindo na escuridão tal qual um Raffles mo­­derno. Raffles moderno? Esse ele também não deve conhecer. Nem de vista muito menos de leitura.

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