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 | Foto: Marcelo Elias / Arte: Felipe Lima
| Foto: Foto: Marcelo Elias / Arte: Felipe Lima

Tem moça bonita que não resiste aos banners instalados numa fachada da Rua Riachuelo esquina com a XV: "Miss Curitiba. Ins­­creva-se já". Elas deixam o Ex­­presso passar, sobem ligeirinhas, apertam o "23" e pedem para fa­­lar com "aquele homem do concurso". Pois é: "Dificilmente quem bate na porta é uma Taiomara Brochardt", reconhece o tal do homem – Danilo D’Ávila, 69 anos, bigodinho em riba, ao lembrar de uma de suas crias ilustres, a parnanguara eleita Miss Brasil Internacional 1981.

A primeira descoberta de Da­­nilo foi ninguém menos do que Isadora Ribeiro, em 1976, num concurso mirim para o programa Mário Vendramel. Foi divertido e só. Tinha mais o que fazer. Era, afinal, um dos reis da publicidade local, posto conquistado à custa de muita sola de sapato no petit-pavé.

Gaúcho de Porto Alegre, Da­­ni­­lo chegou a Curitiba em 1963. Tinha 22 anos e era locutor es­­portivo. Passou por rádios do quilate da Colombo e da Guai­­ra­­cá. Naquela época, a turma das emissoras precisava ter voz boa, mas também pernas para correr atrás de patrocínio. Ele correu. Deu tão certo que abriu sua própria agência de propaganda. Sabe a Disapel, os Móveis Pedroso e a Samuca Modas? Pois é, slogans do degas.

Mas eis que de repente veio a sarna de fazer concurso – bem ele, cuja única experiência no ramo fora torcer, em 1956, por Maria José Cardoso. Tinha então seus motivos: ele era um piá nos primeiros fios de barba. Ela tinha um corpão violão, olhos de farol, nome de professora de grupo escolar e representava o Rio Grande do Sul. Inesquecível co­­mo um Grenal.

Depois da Isadora – um acha­­do pelo qual merece louros – veio o convite para fazer o Miss Paraná 1977 e mais um e ainda outro, sem pausa para o xixi. Nunca mais se livrou dos cetros e das coroas. Hoje, rara a se­­mana em que o escritório de D’Ávila, representante do Miss Globe International e quetais, não tem candidata numa competição – seja no Sri Lanka ou no Sítio do Caqui, em Colombo.

As paredes do escritório estão abarrotadas de fotos de beldades, pezinho para frente. É Thaís Pa­­cholek para cá. Helen Silva para lá. Onde andará Grazi Massafera? Vejo o retrato de uma Miss Curi­­tiba chamada Gislaine Sera Mei­­ga. E leio a mensagem emoldurada que uma lindeza mandou pro Danilo: "A beleza verdadeira é aquela que trazemos em nosso coração". Ahã.

"Precisa ser bonita", dita o ho­­mem. "Concurso bom é concurso com um time forte. Mesmo as­­sim, a Marizabel Domingues foi injustiçada em 1984. A Natá­­lia Guimarães [Miss Brasil 2007] também", esbraveja, possuído pelo locutor esportivo que ainda é. Bem disse o cronista Carneiro Ne­­to. "O Danilo trocou a canela dos jo­­­­gadores pela canela das misses".

Até onde se sabe, não se arrependeu. "Vocês vão me ver de ben­­galinha apresentando as garotas... Russas, polonesas, tche­­cas – difícil saber qual a mais bela. Já as japonesas, difícil saber quem é quem." Ele se diverte. Mas não o aporrinhem dizendo ter acabado a era das misses. "Há mais de 80 competições. Miss é miss. Modelo é modelo", esbraveja feito um Dunga. "Vera Fisher é modelo? Gisele Bündchen é miss?", irrita-se. Até porque o te­­le­­fone não dá trégua. "Depois eu ligo para o Beto Carrero, depois."

Danilo tem razão. Miss é co­­mo Cinderela. É aquela que sorri, sonha com a paz, ama seu país e perde pontos na prova de maiô. "Que saco. O quadril das brasileiras ainda atrapalha", admite, sobre as polegadas a mais que já nos privaram de tantos títulos mundiais. Tsc, tsc.

O quadril largo, no entanto, pode ser uma boa desculpa para trazer à realidade as mocinhas que batem à porta do 23. Se derrubou a Marta Rocha – "aquela da torta?" –, imagine o que não faria às mortais que cruzam a Riachuelo. Pobres misses dos terminais.

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