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 | Foto: Acervo Claudinho de Castro / Arte: Felipe Lima
| Foto: Foto: Acervo Claudinho de Castro / Arte: Felipe Lima

Claudio Cesar de Castro, o Claudinho, tinha pouco mais de 6 anos de idade quando ouviu no rádio um reclame da maravilha farmacológica do século – o Fosfato Amin. Não se via poção igual desde o tempo dos alquimistas. Bastava engolir algumas drágeas e pronto: sofreria efeito semelhante ao de uma overdose de Biotônico Fontoura. O sangue lhe correria quente pelas veias e lhe esticaria as canelas, tornando-o um figurante do seriado Terra de Gigantes.

Como quem pede um punhado de balas 7 Belo, implorou à mãe uma cápsula. E necas. Foi quando soube que o Fosfato Amin podia funcionar para dezenas de guris do Tigre, distrito onde nasceu em Rio Branco do Sul. Menos para ele. Não cresceria. E ouviu da vó Jandira que não deixasse, por causa disso, que o tratassem como atração de circo.

De pouco adiantou. Até os 10 anos andou de colo em colo. Os conhecidos o carregavam feito um brinquedo. Mas nada de fossa. Claudinho adolesceu. A bordo de seus 1,17 metro, pé 33 e figurino de 14 anos – preenchido com 47 pou­­cos quilos – caiu na vida vendendo bilhetes de loteria e fazendo serviço de office boy. Como falava pelos cotovelos, em 1994 recebeu um convite de Claudete Pe­­reira Jorge e Nau­­tílio Portela para fazer Os três porquinhos no teatro.

Pois é – virou ator, desses que não perdem um curso da Clarice Abujamra. Lá se vão 53 peças e um passado. Lembra quase nada das bordas do Tigre e do sonho de calçar 44. Já enxugou as lágrimas dos romances secretos – derramadas ao som de "Alma gêmea", seu hit. A quem interessar possa, está de namoro com Francis, uma mulher alta. E planeja in­­terpretar Ricardo III. "McBeth não vai dar pé, né?"

Nem tempo. O ator se tornou uma figurinha das comédias stand-ups, ramo no qual leva vantagem sobre os maiorais. O top Marco Zeni até pode tirar proveito das piadas de baixinho – uma parte que lhe toca. Mas nada se compara à experiência de Clau­­dinho, para quem uma simples viagem de ônibus equivale a um safári na selva.

Cá entre nós, ele nem precisa recorrer às tragicomédias de um agonizante na Viação Glória. Se­­ria jogar baixo. Para arrancar gar­­galhadas em cena, ocupa-se de responder às três perguntas que mais ouviu ao longo dos seus quase 35 anos. 1. "É só você de anão em casa?" 2. "Por que a gente nunca vê enterro de anão?" 3. "Você é bem dotado?" Responde à primeira como um geneticista. À segunda como um estatístico. À terceira como um arquiteto.

O público aprecia tanto que tem ganas de encher o pequerrucho de beliscões nas bochechas, mimo que ele despreza com uma rabugem lendária. "Detesto que me chamem de nanico...", desfia, entre um impropério e outro.

O cineasta Estevan Silveira acaba de flagrar os destemperos de Claudinho no documentário O oitavo, com lançamento no próximo dia 5. O título tem sacação: não se trata de um dos fofinhos sete anões, mas do "8.º", um cara que bebe, fuma, solta cachorros, manda flores e morre de rir.

Debochado – jogou no YouTube o vídeo A dança do Quadrado, cuja popularidade rivaliza com O tapa da pantera. Ante­­nado, fez do blog "Ah! Não" um site de cenas da vida minúscula. Tem Claudinho na balança da farmácia. Fritando ovo. Comentando o que faria para ganhar o BBB.

Não tenho dúvidas de que o milhão seria dele. Faria bonito nas festas e daria peti em rede nacional. Diria barbaridades no confessionário. Na hora dos votos, lavada. Seria capa da Contigo. E na entrevista da vitória, responderia com cinismo "às três perguntinhas básicas para um anão".

A história de Claudinho tem sido de fato um BBB. Ou quase. Ele tem lá seus mistérios ao cair do pano. Em casa, soube, delicia-se pensando se anões são de fato seres sobrenaturais, como dizem. Já se imaginou recebendo os superpoderes do Fosfato Amin. Depois boceja e põe o despertador para amanhã às 11 horas. Os astros merecem.

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