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Voltemos à velha tática de revelar o milagre, não o santo – porque até no ato de tirar onda da rapaziada há de se ter ética. Um certo amigo anda indignado com a banalização do uso das palavras no diminutivo. Sujeito do tipo casca grossa – mais casca grossa do que calcanhar de batateiro, diria o outro –, tem tido dificuldade no contato cada vez maior com palavras que terminem em “inho(a)”.

De todas, comidinha é a que mais abala o psicológico do incauto. A ponto de se irritar ao tomar um aperitivo em todo e qualquer estabelecimento em que conste a lousa escrita em giz comidinha di boteco. Onde foram parar as tradicionais porções, beliscos e tira-gostos, pergunta-se um pouco espantado. Entrou tudo na travessa de comidinha di boteco, resigna-se.

Onde foram parar as tradicionais porções, beliscos e tira-gostos? Entrou tudo na travessa de “comidinha di boteco”

Assistir a telejornais com interações cada vez maiores dos apresentadores com espectadores e repórteres é outra tarefa que o tem tirado do sério. Em especial quando a garota do tempo dá as caras. Ao começar o (perdão pelo trocadilho) temporal de diminutivos – solzinho, chuvinha, friozinho, calorzinho –, ele logo abre o guarda-chuva da irritação (desculpa novamente pelo trocadilho).

Mulheres grávidas e mães de primeira viagem também balançam o humor do nosso amigo. Primeiro, é claro, pelos pequenos que virão ou que já começaram a escrever seu currículo no planeta Terra. Afinal, o sujeito pode até ser um tanto quanto bronco, mas não é insensível. Tem coração o dito-cujo. O que causa um pouco de estranheza nele, no caso, é o vocabulário próprio que as mulheres desenvolvem com o advento da maternidade, recheado de diminutivos que tão bem acalentam os pimpolhos, mas que soam um pouco disformes a seus ouvidos ogros.

Por falar em coração, foi justamente o músculo do peito que entregou o amigo em questão. Flagrado por amigos na companhia da namorada em um bar da cidade dia desses, o sujeito não conseguiu esconder o sorriso quando a companheira, em um ato contínuo de carinho, soltou um “meu bebezinho” enquanto levava à boca dele um dos tira-gostos que saboreavam.

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