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Aconteceu com um amigo meu. A turma reunida no bar, tomando aquela cervejinha, quando um senhor já de certa idade se aproxima da mesa lentamente e interfere na conversa.

"Dá licença, pessoal. Um minutinho só. Quero só cumprimentar esse cara aqui. Mas veja só, esse, sempre gordo!"

Dita a frase, o senhor em questão deu um abraço forte nesse meu amigo e foi embora, um pouco cambaleante pelo expediente estendido no bar.

A cena instaurou um certo clima de suspense na mesa. Todo mundo querendo saber, afinal, quem era o senhor cheio de intimidade com esse meu amigo.

"Teu avô?", perguntou um dos integrantes da mesa mais afoito.

"Está mais para tio. Talvez um tio-avô, pela idade", comentou outro.

"Nem avô, nem tio-avô falariam desse jeito com um neto ou sobrinho-neto. É teu amigo aqui do boteco mesmo, né? Parceiro de balcão", deduziu um terceiro.

"Amigo de boteco não pode ser, porque é a primeira vez que ele vem aqui. Eu sei porque fui eu mesmo que o convidei pro bar", interpelou o quarto integrante da mesa, enquanto enchia os copos de cerveja e o mistério enchia a atmosfera do estabelecimento.

Meu amigo ficou sem resposta. Tentou puxar pela memória de onde poderia conhecer aquele senhor. Talvez um ex-professor ou mesmo um zelador dos colégios em que estudou. Porteiro de algum prédio onde tenha trabalhado era outra opção. Um antigo amigo de trabalho de seu pai, um vizinho que não via desde criança, o dono da banca de revistas em que comprava gibis na adolescência, o mecânico do carro, o cobrador do ônibus do tempo da faculdade... Nada. Nem a menor pista.

A turma tentou solucionar o enigma perguntando aos outros frequentadores do boteco se alguém conhecia o figura. Dos fregueses daquela tarde de sábado, ninguém tinha a menor ideia de quem era. Dele, o dono do bar sabia apenas a marca de cerveja que havia acabado de tomar.

Pensaram em solicitar as imagens das câmeras da rua, mas não havia câmera na rua. A possibilidade de colher impressões digitais chegou a ser pensada. Mas o casco da cerveja já tinha se misturado a vários outros e o que não faltava no balcão daquele bar, como no de todos os outros da face da Terra, eram impressões digitais de uma quantidade infinita de bebuns. Fora o fato de todos da mesa estarem assistindo a CSI demais para cogitar um disparate desses.

De certo mesmo daquela tarde de sábado no bar ficaram só duas coisas. Uma, que toda história que começa com um "aconteceu com um amigo meu" muitas vezes se passa com a própria pessoa que conta o causo. Outra, que o senhor em questão pode até me conhecer, mas eu, definitivamente, nunca o vi mais gordo.

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