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Toda pessoa deveria chegar à idade avançada ao ritmo dos velhinhos de Copacabana. Vida ativa, exercícios físicos, diversão e bom humor.

Tudo bem, a paisagem ajuda. Exercitar-se no calçadão da praia é muito mais agradável do que andar em círculos na pista de uma praça qualquer. Mas isso não vem ao caso. Os velhinhos de lá são diferentes. Ponto.

Foi no fim de uma tarde de sábado, enquanto as bolachinhas de chope se empilhavam na mesa em que eu estava com alguns amigos de férias no Rio, que me dei conta disso. Na mesa ao lado havia o aniversário de uma senhora bem de idade. E, em vez de aquela senhora passar a virada de mais um ano em casa, com chá e bolachinha, preferiu ir ao bar com a família.

Estavam todos lá. Filhos, netos e, arrisco-me a dizer, até os bisnetos. Só faltaram o marido, os irmãos e alguns amigos. Mas esses muito provavelmente já não cumprem mais expediente na Terra.

Todos abraçaram a velhinha, cantaram parabéns. Tudo muito singelo. Eu mesmo quase me levantei para dar um abraço nela. Mas meus amigos acharam melhor eu me conter.

Em vez de aquela senhora passar a virada de mais um ano em casa, com chá e bolachinha, preferiu ir ao bar com a família

Na outra mesa, um casal também idoso. Ambos muito ajeitados. Ele de sapatos lustrosos, camisa e calça social perfeitamente passadas. Ela era gordinha, o que não lhe tirava nem um pouco o charme. Os cabelos cuidadosamente pintados e um bonito par de brincos prateados nas orelhas eram a prova de que na juventude essa senhora deve ter sido um bela moça.

Na sequência, chegou outro casal, amigo do primeiro. Cumprimentaram-se e, no mesmo instante, o telefone da senhora que havia chegado tocou.

“Oi, Clotilde, acabamos de chegar. Como você não vem? Você vai perder essa, Clotilde?”, disse a senhora.

É, não tinha jeito. A Clotilde não iria mesmo. Parece que o velho dela não ia lá muito bem dos pulmões ou algo assim. Mesmo sem Clotilde e o marido dela, o jeito era se divertir.

Os dois casais conversaram, deram risadas, falaram dos netos, tomaram seus chopes, jantaram e foram embora. Todos rindo.

Mais ou menos no mesmo instante em que o segundo casal chegou, entrou outro velhinho. Sozinho, mas isso é só jeito de falar. Com uns setentinha nas costas, mas completamente em forma – vai ver é dos cabeças brancas que jogam vôlei nas areias de Copacabana –, ficou a maior parte do tempo de pé.

Não era nenhum problema que o impedisse de se sentar. Ele passou a maior parte do tempo cumprimentando as pessoas. Ao que tudo indica, era mais conhecido no bar do que nota de R$ 10.

Depois se sentou à mesa onde estavam outras duas senhoras. No que uma delas puxou o bate-papo:

“Nossa, Judith, ele é bonitão mesmo.”

“Não te falei?”, disse a outra.

“Moças, se comportem”, disse o senhor com um sorrisão e voz de locutor de rádio.

Naquele dia, vendo aqueles senhores e senhoras, fui embora de Copacabana com uma certeza. A de que você, Clotilde, realmente perdeu uma boa.

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