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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

“Se for falar de amor, me consulte”, diz a moça bonita que garante que tem o que contar. Muita desilusão que vale uma crônica ou até mais que isso. Se for falar de amor, me consulte, insiste ela. “Vou te contar como é conviver com um homem ciumento e implicante. ”

Sua beleza atrai este homem e ao mesmo tempo faz com que ele tema os outros que também são atraídos por ela. Ou que simplesmente passam, distraídos que seja, pelo espaço físico que ela ocupa. Vive em permanente estado de prontidão, suspeitando que seu tesouro está sendo atacado por outros, por piratas aventureiros que conseguem chamar a atenção da princesa. Ah, essa princesa! Qualquer aceno de cabeça em direção a um velho conhecido é interpretado como sinal de volúpia e sedução. Ela se vê como uma mulher decente. Ele a vê como uma Dalila incansável.

Amor há de vários tipos. Mas este caso complicado não inspira um poema daqueles que a gente decora

O amor sobre o qual ela quer falar é testado diariamente pelo ciúme e pela insegurança. “Ninguém é perfeito”, ela diz a si mesma para justificar o relacionamento e o esforço que faz toureando acusações infundadas. Se uma de suas fragilidades vem à tona, ele se apodera dela para usar como arma na próxima discussão. O que seria um pedido de ajuda é usado como argumento para enfraquecê-la. Quando ela desiste e diz que vai embora, ele recua e pede uma segunda chance. Está mais para novela do que para crônica, mais para bolero do que para bossa nova.

Amor há de vários tipos. Mas este caso complicado não inspira um poema daqueles que a gente decora para – quem sabe um dia? – declamar para os ouvidos certos. Só inspira esta crônica meio melancólica. “É bom falar de amor, falar de amor é tão bom”, cantarola Paulinho da Viola. Estamos tentando, estamos tentando.

Melhor seria a cronista escrever uma carta sincera e bruta, daquelas que fazem a mão do destinatário tremer ao ler as primeiras linhas. Seria assim:

“Caro Otelo, venho por meio desta informar que você está fazendo tudo errado. Torturar sua namorada com cobranças e ceninhas de ciúme não fará ninguém feliz. Se o amor é verdadeiro, você está com problemas sérios. Ou controla esse ciúme ou esquece a beldade. Convença-se de que ela merece um voto de confiança e, se não merece, abandone-a sem mais delongas e vá tocar a vida. Se o amor não for verdadeiro, tenha a paciência... Deixe a menina sambar em paz.

Lembrou da canção que o Chico fez para você? Sim, foi para você mesmo, tenho certeza. Põe aí para tocar e presta atenção naqueles versos: ‘Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem’.

Sem mais pelo momento, desejo-lhe um bom fim de semana.”

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