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Nesta semana um menino de 12 anos matou uma curiosidade: viu o umbigo de um bebê recém-nascido. Ele queria entender de que as pessoas estão falando quando dizem "o umbigo do bebê caiu". Como assim: caiu? Bem, o menino viu outro menino, bem menor que ele, um bebezinho de 3 dias, que ainda está com um minúsculo pedacinho do cordão umbilical pendurado. Saciada essa curiosidade, veio a próxima: e quando cair, o que vão fazer com o umbigo?

Não me lembro da resposta que lhe deram, mas lembrei do meu próprio umbigo, que minha mãe guardou porque alguém lhe disse que o lugar onde ele fosse enterrado influenciaria o destino da criança. Minha mãe citava um exemplo quando explicava porque aquele pedacinho de mim estava guardado na gaveta: enterrado na porta da igreja, faria da criança um adulto religioso.

A julgar pelo que ela fez (nada...), minha mãe não se impressionou o suficiente com a superstição que lhe ensinaram. Enterrar umbigos de bebês na esperança de que isso os direcione na vida é parte do folclore brasileiro: embaixo de uma roseira, faz da menina uma mulher bonita; na porta do hospital, o menino vira médico; na porteira da fazenda, faz com que o garotinho se torne fazendeiro.

A história do enterro do umbigo parece ter uma explicação simples. Na zona rural, as parteiras entregavam para a família da gestante tudo que "sobrasse" do parto. O que iriam fazer com aquilo? Jogar no lixo? Que lixo? Estamos falando da zona rural de antanho, quando não havia recolhimento de lixo nem de esgoto. Tudo era necessariamente enterrado. Com o tempo, como costuma acontecer, aquilo foi virando um ritual. Passou-se a procurar um lugar especial para receber o cordão umbilical e criou-se a lenda que era perigoso esperar muito para fazer a "cerimônia". Por quê? Porque se um rato pegasse o umbigo e levasse embora a criança se transformaria em ladrão quando crescesse...

A ansiedade de pais e mães para garantir um bom futuro para seus filhos deve explicar essa "plantação" de umbigos Brasil afora. Pena que não dá certo. Só a educação funciona e, mesmo assim, sabemos que não é uma fórmula do tipo A + B = AB.

Por exemplo: enterra-se o umbigo do Joãozinho na porteira da fazenda. Ele pode se tornar fazendeiro, mas também poderá ser ladrão de gado. Ou cantor sertanejo.

Você enterraria o umbigo de seu filho na porta do Congresso Nacional? Por que não? Por que sim? Ele poderia se tornar motivo de vergonha. Ou de orgulho.

Minha mãe guardou meu umbigo e os de minhas irmãs. Deve ter ficado com dó de jogar fora e não sabia o que fazer com aquelas coisinhas estranhas. Deixou para nós a decisão do que fazer de nossas vidas. Sábia mulher, a minha mãe. A essa altura da vida, ninguém sabe qual umbigo é meu, qual é da irmã mais velha, qual é da irmã mais nova. Supondo que a tal simpatia funcione e eu decida escolher um deles para enterrar na porta da igreja, minha irmã pode acordar no dia seguinte com uma vontade louca de rezar o terço. E se eu enterrar em alguma fresta da pista do aeroporto, crente de que me transformaria em uma globetrotter, e a minha irmã largar a família para virar mochileira?

Tarde demais. Se quero rodar o mundo, terei de ir movida pela minha própria vontade e não pelo feitiço do meu umbigo. Esse, vou fingir que não existe, até que o rato leve embora.

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