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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Não aguento mais os colegas exibidos que ficam se gabando de es­­tarem no grupo de risco para a gripe A. É, é isso mesmo, leitor. Tem gente por aí se vangloriando de estar em um dos grupos de risco que foram incluídos no calendário de vacinação do Ministério da Saúde. Refiro-me ao povo que tem entre 30 e 39 anos. De que eles se ga­­­bam? – você deve estar se perguntando. De não terem 40 anos ainda! Veja bem, eu disse ainda. Mas en­­quanto não chegam lá, eles contam vantagem.

Eu nunca tinha visto tanta gente se orgulhar de fazer parte de um grupo de risco e de ter que tomar uma agulhada como nesses últimos meses. Desde que o ministro Temporão anunciou que bebês e jovens entre 20 e 39 anos seriam vacinados, há um bando de exibidos contando para Deus e o mundo que irá se imunizar. Desconfio que os exibidos todos tenham 39 anos. Por isso a barulheira. É um canto do cisne, por assim dizer...

Presenciei umas conversas engraçadas e um tanto confusas em torno do assunto. Alguém conta, com um sorriso nos lábios, que foi vacinado em um posto de saúde (enquanto os colegas tiveram de recorrer a clínicas particulares) e que, portanto, é jovem. Outro rebate dizendo que quem tem 39 anos logo estará na meia-idade. E aí vem uma discussão sobre o que é meia-idade. Parece que o entendimento geral é de que se trata da fase em que se está no meio da vida. Entenda-se vida por perspectiva de vida. Se a do homem brasileiro é de viver 72 anos, a meia-idade começaria aos 36. Ou seja, parte da turma que se vacina por ser "jovem" já está na meia idade. Confuso, não é? Pelo menos, é uma boa vingança contra os exibidos.

Meia-idade, convenhamos, é um termo antiguinho. Não faz sentido, para mim pelo menos. Talvez não faça sentido nem fisiologicamente. As pessoas envelhecem de formas diferentes – tem octogenários e nonagenários por aí que não me deixam mentir. A sociedade é que vê todo mundo de forma igual, como massa disforme e rotulável. Por isso que precisa desses termos esquisitos: juventude, meia-idade, terceira idade. E aí tenta minimizar e inventa uma "melhor idade". Melhor para quem, Pedro Bó? Nessa hora de confusão, é melhor ouvir os sá­­bios. Woody Allen disse no fim de semana passado a que conclusão chegou depois de muito refletir sobre a tal "melhor idade":

– Acho que é um mau negócio. Você não fica mais esperto, não fica mais sábio, não fica mais doce ou mais amável. Nada acontece de fato. Suas costas doem mais, você tem mais indigestão, sua visão não é boa, você precisa de ajuda para escutar. É um mau negócio ficar velho e eu aconselharia vocês a não fazerem isso.

Pelo menos, se vivesse no Bra­­sil, o Woody Allen poderia se vacinar gratuitamente em um posto de saúde porque faz parte de outro grupo de risco: o dos maiores de 60 anos.

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