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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Nesta semana que acaba hoje, todo jornal que se preza no Brasil – inclusive este que você está lendo – publicou algo sobre Erasmo Carlos, que aos 70 anos lança um CD chamado Sexo, com músicas que falam de... sexo. Claro que tiveram que perguntar a ele por que este tema e aquele que é chamado de Tremendão não se furtou em responder: porque o assunto é bom, é importante, etc e tal. Aos 70 anos, Erasmo se declara em plena atividade. Assunto banal – o que tem de mais um homem dizer que não interrompeu sua vida sexual? Nada. Mas a questão – e é por isso que estou falando disso aqui – é a ideia que impera por aí da maturidade. Colocando de forma seca, como em uma fórmula de Física, ficaria assim: maturidade = decadência + estagnação. Dos maduros não se espera muita coisa, nem projetos nem ideias nem um corpo vivo e pulsante.

Grandíssima bobagem, como bem mostrou o Tremendão.

Aliás, precisamos de muitos tremendões para nos livrar dessas ideias preconcebidas que limitam a forma como vivemos e causam frustrações. Para nos livrar do senso comum que diz que todo adolescente é chato, que mulheres são gastadeiras, que homens são incontroláveis tarados e que idosos não têm mais capacidade de fazer certas coisas, como pensar e amar.

Einstein definiu o senso comum como "o amontoado de preconceitos adquiridos aos 18 anos de idade". Faz sentido. Qualquer um que já teve 18 anos lembra que, nessa idade, estamos piamente convencidos de que não há horizonte para depois dos 28; que o que você não fizer até chegar aos 30 não fará nunca mais. Raciocínio até compreensível quando você tem 18, mas burro quando tem qualquer outra idade acima disso.

Se Einstein estiver certo, então os conceitos que aprendemos com nossa família e nosso meio social na ignorância de nossos 18 anos se cristalizarão e nos orientarão pelo resto da vida.

Do ponto de vista biológico, o raciocínio é razoável: aos 18 pensamos com a pressa de animais que precisam caçar e se reproduzir (estão no auge da fecundidade) para manter a espécie. Cumprida esta missão, é hora de morrer. A contradição é que, desde que os gregos, na Antiguidade, se deram conta de que o ser humano pode se sobrepor à natureza e se orgulharam disso, a humanidade vinha acreditando que não precisava se subjugar aos imperativos mais básicos da natureza, ao contrário do que acontece com os outros animais (só muito recentemente a humanidade passou a questionar o quanto esse "sobrepor-se à natureza" é perigoso).

Mas por mais arrogantes que sejamos, continuamos acreditando no senso comum dos 18 anos. Este começo de século inclusive presencia um fenômeno: a longevidade humana é hoje maior que nunca e, ao mesmo tempo, convivemos com uma onda avassaladora de estética e de comportamento adolescente. É como se a humanidade se negasse a crescer, a encarar que está se transformando em uma espécie de velhos, o Homo grisalhus. Os velhos, que em algumas culturas eram abandonados para morrer sem dar trabalho, hoje são tantos que não é mais possível ignorá-los. Muitos deles andam saltitantes por aí, dizendo coisas espantosas, cantando provocações – amando! Aliás, amar é a mais extrema das provocações que eles podem fazer.

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