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Nós, peabiruenses, estamos acostumados com o estranhamento que provocamos. Não que quem nasça em Peabiru tenha algo esquisito na aparência. É que as pessoas se surpreendem quando você diz que nasceu em um lugar do qual poucos ouviram falar. Esse desconhecimento não é nada demais se levarmos em conta que o Paraná tem 399 municípios e, de acordo com um pequeno teste que apliquei em alguns conhecidos antes de me sentar para escrever este texto, a maioria de nós sabe citar no máximo uns 30 nomes de cidades paranaenses.

Anos atrás, em um domingo de eleição, Peabiru foi o primeiro município a concluir a apuração de votos, fato devidamente noticiado pelos telejornais noturnos. Na segunda-feira, uma colega, na ingenuidade dos seus 15 anos, veio me dizer que havia ouvido falar da minha cidade na tevê e que então pensou: "Não é que ela não inventou Peabiru!".

(Por que cargas d’água alguém inventaria uma Peabiru para colocar na sua biografia, não tenho a menor ideia. Talvez para fugir de uma história pessoal comprometedora — por exemplo, em vez de revelar ao mundo que nasci em Paris, de onde fugi com uma mala cheia de euros após ter fraudado o banco centenário da família, digo simplesmente que nasci em Peabiru... )

Quem nasceu em Ampére (adoro o nome desta cidade) ou em Inajá, ou em Sulina deve passar pela mesma situação. "De onde você é mesmo?", alguém nos pergunta, para cinco minutos depois não lembrar mais da nossa resposta. Um colega de trabalho insiste em fazer piadas comigo sobre Porecatu, crente de que foi lá que eu nasci. Não importa quantas vezes eu o corrija, lá vem ele trocando Peabiru por Porecatu.

Só me lembro de uma peabiruense que ficou relativamente famosa, saindo em grandes fotos em jornais e revistas e sempre citando a cidade de onde saiu. O nome da celebridade é Malu Bailo e ela era stripper. Sim, a moça vivia de tirar a roupa e, por uma razão que nunca entendi, virou celebridade. Foi capa da Playboy e de uma edição do caderno de cultura da Folha de S. Paulo, em um belo retrato em que aparecia de óculos e com um livro na mão. Malu era uma stripper "cult". Foi convidada a fazer teatro e contracenou com Raul Cortez. Segundo contava, trabalhou na roça em Peabiru. Hoje não sei por onde anda esta minha conterrânea famosa (o escritor Miguel Sanches também viveu em Peabiru, mas nasceu em outra cidade da região: Bela Vista do Paraíso).

Apesar da contribuição da Malu, ainda não conseguimos tornar famoso o nome da nossa simpática Peabiru. Vista do céu pelo satélite do Google Earth ela é uma vilazinha cercada por campos cultivados divididos em retângulos verdinhos e bem delimitados. Quase dá para ver a nuvem de terra vermelha que o trator levanta ao passar por entre esses caminhos que cortam os milharais.

Pouco me lembro de Peabiru porque saí de lá bebê e só voltei durante a infância para visitar minha avó. Lembro da mangueira no quintal, do cheiro de limpeza da casa (acho que era do "vermelhão" que passavam no piso de cimento queimado) e do cheiro da terra. É uma memória olfativa. Ou seja, além de aspecto pitoresco da minha biografia, para mim Peabiru é uma memória perfumada.

Marleth Silva é jornalista.

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