• Carregando...
 |
| Foto:

Outro dia, comprei um livro de um sebo pela internet. O sebo fica em Londrina: Sebo Paraná. Título: Ponte Rio-Londres, da Elsie Lessa, editora Record, 1984. Como é um livro de crônicas, fui folheando e lendo aqui e acolá. Já estava quase terminando a leitura quando percebi que há uma dedicatória. Diz assim: "Dr. Domingos, Um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de esperanças, paz e saúde. Abraços agradecidos, Ruth de Souza".

Não sei se consigo me explicar, o fato é que essa dedicatória deu outro valor àquele exemplar. Ele virou uma preciosidade. Além de pedaços da vida da Elsie, agora ele me apresenta ao Dr. Domingos e à Ruth. Ela, muito educada, deseja coisas boas a ele. Ele deve tê-la ajudado, por isso os "abraços agradecidos". Gente boa, gente fina a Ruth e o Dr. Domingos.

Fiquei curiosa para saber mais sobre eles. Liguei para o sebo Paraná e especulei se eles não teriam outros livros que pertenceram ao Dr. Domingos. "Difícil", respondeu o moço de Londrina. Sendo assim, não há jeito de eu descobrir algo sobre a Ruth de Souza. Seria a atriz elegante e expressiva, primeira negra a subir no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, segundo me informa a Wikipedia?

Tem mais. Alguém (Dr. Domingos?) recortou uma crônica de Elsie e colou com todo o capricho na capa interna. Havia sido publicada no dia 11 de dezembro de 1984 n’O Globo (está anotado). O texto abre assim: "Londres (Via Varig)". Elsie morava em Londres e mandava o texto para o jornal em um envelope, voando pela Varig. Na crônica ela fala sobre o título que tenho nas mãos e conta que seu primeiro livro foi publicado pela editora Guaíra, de Curitiba, durante a Segunda Guerra Mundial, e era tão magrinho que não ficava em pé na estante.

Quanto capricho do antigo dono de Ponte Rio-Londres. Para quem pensa que todo esse cuidado foi desperdiçado quando o exemplar caiu nas mãos de um estranho, aqui está esta crônica de jornal para provar o contrário. Testemunho que as marcas deixadas pelo Dr. Domingos me fizeram bem, me deixaram animada.

Passei bons momentos lendo a Elsie Lessa e bons momentos não são desprezíveis. Precisamos deles tanto quanto precisamos de comida. Cheguei à Elsie através da curiosidade despertada pelos textos do filho dela, o jornalista Ivan Lessa, morto no ano passado. Cheguei ao Ivan Lessa pelas mãos de um amigo, José Paulo, que gostava de tudo que ele escrevia.

O José Paulo me apresenta ao Ivan que me apresenta à Elsie que me apresenta à dupla Dr. Domingos/Ruth de Souza. Tudo isso despretensiosamente, inadvertidamente. Uma espécie de Teoria do Caos ("O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova York"). Um sistema em movimento, dinâmico, que só para se eu parar de prestar atenção nele.

Como eu quero ver aonde isso tudo vai parar, comprei um livro traduzido pela Elsie Lessa que descobri enquanto vasculhava os sebos on-line em busca daquele velho livro publicado pela editora Guaíra (não encontrei). O que eu encontrei foi Manobras e Estratagemas da Vida Sexual, do doutor A. H. Chapman, de 1968. No mínimo, o título é curioso.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]