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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Todo mundo diz que não vale mais a pena consertar os aparelhos eletrônicos, que fica muito caro ou que eles são simplesmente "inconsertáveis". Os comentários vêm seguidos de suspiros saudosistas: "A lavadora de roupas da minha mãe durou 30 anos". "Meu pai assistiu Jornal Nacional na mesma tevê durante 20 anos". O povo está certo? Os nossos eletrodomésticos têm vida mais curta que a dos nossos pais? Quando estragam, eles têm mesmo que ir para o lixo?

Desconfio que, mais uma vez, a voz do povo é a voz de Deus. Quero tirar a dúvida porque, de tempos em tempos, fico indignada ao descobrir que um aparelho pelo qual paguei caro "morreu" de morte súbita. Mas antes de escrever alguma besteira, consulto quem entende do assunto. Minha fonte bem informada e atenciosa é o professor Emerson Rigoni, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Sim, confirma o professor Emerson, os eletrodomésticos modernos não são fáceis de reparar caso apresentem alguma falha de funcionamento. Pior que isso, na maioria dos casos é inviável consertá-los. Como você deve suspeitar, caro leitor, isso acontece por causa da parte eletrônica dessas máquinas. Todas elas têm placas eletrônicas formadas por vários componentes. Esses componentes não estão lá para serem substituídos. Por quê? Por mais de uma razão, me explica o professor Emerson. Muitas dessas placas são produzidas no exterior a baixo custo e, portanto, os componentes não estão disponíveis em qualquer loja de ferragem do seu bairro. Outro problema: para trocar o componente enguiçado seria necessária mão de obra especializada. E esse tipo de mão de obra custa caro. O conserto se torna, portanto, inviável e se aquela sua tevê de LCD pifar... Azar seu!

E a lavadora que durou 30 anos ou o ventilador que foi usado por 25 verões – eles eram melhores que as novidades que eu compro agora para a minha casa? O professor me socorre: os eletrodomésticos antigos eram menos eficientes. Os materiais evoluíram e a máquina agora trabalha melhor. Ela é feita para consumir menos energia, água e tempo. Mas também é feita para ser descartável, por duas razões: por causa das já citadas placas eletrônicas e também porque a tecnologia vai engolindo as gerações anteriores de produtos. É a tal da obsolescência programada. Provoca-me o professor: "Você quer comprar um celular para durar 20 anos?". Ou, invertendo a pergunta: "Você quer um celular de 20 anos atrás, que ainda funciona muito bem?"

Não, professor, não quero. Mensagem entendida.

O que faremos, então, com as máquinas que vão passar pela nossa vida por breve período de tempo e que depois serão descartadas? Para onde vai tanto lixo eletrônico? Essa é a questão não resolvida. Segundo o professor Emerson, quase tudo que está em um eletrodoméstico ou computador é reciclável e há materiais nobres indo para o lixão. Mas só quem pode reaproveitar esses materiais é a própria indústria. Falta implantar o que ele chama de "metodologia de descarte". Ou seja, uma estratégia para que o liquidificador que não funciona mais na sua cozinha volte para a fábrica de onde saiu. A partir daí, o que fazer dele será um problema do fabricante, não seu.

Se não houver essa reciclagem, vislumbro um cenário digno do filme Wall-E. Na história do robozinho, de tanto lixo e poluição que os humanos produziram, a Terra ficou sem espaço para os seres vivos, que foram morar em naves espaciais. O filme é ótimo, mas o cenário é um horror.

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