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 | Gilberto Yamamoto
| Foto: Gilberto Yamamoto

Meu colega João Paulo tem uma teoria sobre o enorme sucesso do Facebook. Não vai durar, prevê ele, porque as pessoas vão cansar da brincadeira de reencontrar velhos amigos e parentes afastados. Segundo o João Paulo, ninguém quer ficar em contato com todas as pessoas com quem vai cruzando ao longo do caminho. Se entendi bem o raciocínio do colega, precisamos que alguns fiquem para trás ao longo da nossa vida. Até porque queremos tempo para nos dedicar àqueles que são importantes hoje.

Caso você, leitor, não esteja muito familiarizado com essa mania atual, o Facebook é um site onde pessoas se cadastram para (a) localizar velhos amigos e parentes; (b) compartilhar informações e mensagens que achem relevantes (ainda que 99,9% delas sejam, na verdade, 100% irrelevantes), e (c) exibir ao mundo o que acreditam serem provas de como elas são inteligentes e felizes.

Coloquei em primeiro lugar na lista o "localizar velhos amigos, parentes e conhecidos" porque acho que essa é a base do sistema. O que dá graça à brincadeira é sentir-se cercado de conhecidos. Como se quase todas as pessoas que conhecemos fossem colocadas em uma nave espacial e, lá de dentro, observássemos o mundo cá embaixo fazendo comentários às vezes divertidos, às vezes raivosos.

Pois o João Paulo acha que esse que é o grande trunfo do Facebook – a oportunidade de reencontrar amigos – é também seu ponto fraco.

Se não me arrisco a prever o que acontecerá com o Facebook, reconheço que, como qualquer pessoa que já saiu da adolescência há algum tempo, senti na pele que amigos nem sempre são para sempre. As pessoas mudam, a vida muda e as distâncias entre nós podem aumentar a ponto de a convivência se tornar inviável ou pelo menos desinteressante. É verdade que nem sempre o desinteresse acontece naturalmente e ao mesmo tempo para as duas partes envolvidas. C’est la vie...

Abro parênteses: às vezes reencontram-se pessoas depois de dez, 20 ou 30 anos e a afinidade que existia até aumentou. Isso não é regra – é possibilidade.

Agora, imagine que "lotada" nossa vida ficaria se todos que entrassem nela não saíssem mais. Onde tempo para a vizinha da adolescência, para os amigos do colegial, para os colegas das cinco empresas em que você trabalhou ao longo da vida? Cadê a paciência para conviver com pessoas que talvez não tenham mais nada a ver com a nossa vida atual? Pessoas cujas presenças nos retêm em um passado que não nos faz falta?

No mundo online, os velhos conhecidos exigem pouco. Basta deixar que entrem na sua rede de amigos virtuais, muitas vezes depois de respondermos aquelas perguntas usadas para checar se somos quem eles supõem: "Sim, sou a menina que foi sua vizinha em São João do Mereti". Ou: "Isso mesmo, sou o Alfredinho, filho da sua tia Julieta".

No mundo real, não é bem assim. É preciso empenho e tempo para dedicar à nossa rede de amigos de carne e osso, se não ela mingua.

Por isso, não me leve a mal. Deixar o passado no passado e algumas pessoas lá junto com ele não é desamor. É técnica de sobrevivência.

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