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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Entre as idiossincrasias brasileiras mais resistentes ao passar do tempo está a de batizar os filhos com nomes duplos. É um tal de Silvia Aparecida, Patricia Regina, Cintia Larissa, Viviane Beatriz. E têm as versões masculinas: Fernando Henrique, José Inácio, Eduardo Augusto, Pedro Adolfo, Guido Adriano. Dirão alguns que é herança do nosso passado monárquico. O povão tentava imitar a família real e sua lista infindável de prenomes. Lembra de d. Pedro I? Ou melhor, lembra de Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim? E o filho dele, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim, mais conhecido como d. Pedro II. – soa familiar?

Dirão outros que por trás do nome duplo está um casal que não entra em acordo sobre como batizar o filhote. Ele quer Luana; ela quer Jênifer. E aí a garotinha é brindada com a combinação Luana Jênifer. Aliás, falar em combinação é um pouco de exagero. Nem sempre há preocupação em escolher dois nomes próprios que "ornem" entre si. Para quem acha que a palavra é bonita, tudo soa bem. Anos depois, o Emerson Cristiano percebe que, diante de sua assinatura, uns e outros se sentem inspirados a fazer piadinhas. Aí vem a revolta contra os progenitores, que pode acabar em patricídio ou matricídio.

É claro que estamos falando de casos extremos. Na maioria das vezes, a vítima do mau gosto paterno simplesmente esquece um dos dois nomes, deixa de usá-lo e fica torcendo para que seus documentos nunca caiam na mão dos amigos – e muito menos dos inimigos. O segundo nome passa a ser um segredo bem guardado, que ele só revela para a alma gêmea (com quem já vive há muitos anos) quando os dois decidem oficializar a união:

– Querida, antes de darmos esse passo importante, é preciso que você saiba algo sobre mim.

E aí, sem esconder certo constrangimento, o rapaz entrega para ela uma carteira de identidade velha e amarelada onde se lê "Oscar Benedito".

Minha colega Silvia Aparecida nos fornece uma provável explicação para muitos nomes duplos: promessa para um santo. Gravidez de risco, dificuldade para engravidar, doença na família – algum desses dramas pode ter motivado a mãe ou o pai a se ajoelhar diante de uma imagem de santo e dizer:

– Em retribuição a esta graça que te imploro, meu São Benedito, prometo dar ao meu filho primôgenito teu abençoado nome.

Depois disso, só resta ao Oscar Benedito agir como um homem e assumir sua história pessoal diante da noivinha.

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